Título: O que faz efeito é prender em massa
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 20/07/2008, Rio, p. 23

Economista da FGV diz que é preciso investir na construção de presídios para reduzir o número de homicídios.

Professor e vice-diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o economista Aloísio Araújo, que também dá aulas no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), passou a vida toda cercado por números. Agora, o acadêmico - um dos mais respeitados do país, ganhador da Ordem do Mérito Científico, concedida pela Presidência da República, e membro da National Academy of Sciences, americana, desde 2006 - tem voltado sua atenção para outro tipo de estatística: a da violência.

Preocupado com a situação a que o Rio chegou, ele, que já foi assaltado à mão armada na bucólica Paraty, tem colaborado com o governo do estado, dando sugestões para tentar melhorar a área de segurança pública. Após estudar a relação entre o aumento da população carcerária e a queda nos números de homicídios em São Paulo e nos Estados Unidos, ele está convencido que, a curto prazo, a solução para o Rio é prender mais, além de investir na construção de penitenciárias. Depois disso, apostar todas as fichas para melhorar a educação infantil.

Maria Elisa Alves

O senhor concluiu, após analisar dados dos Estados Unidos e de São Paulo, que, quanto maior o número de presos, menor é o de homicídios. Encarcerar mais seria a solução para o Rio?

ALOÍSIO ARAÚJO: É o ponto mais importante. Funcionou nos Estados Unidos e em São Paulo (o Rio tinha, em 2006, 1,5 preso para cada cem mil habitantes e 42,2 homicídios por cem mil; enquanto São Paulo tinha 3,57 presos por cem mil e 18, 8 homicídios por cem mil). O exemplo de São Paulo é bom porque é um lugar em que a Justiça é a mesma, onde há a questão da progressão automática de pena. O número de policiais per capita também é parecido com o do Rio. Mas lá, com o aumento de vagas nas prisões, os homicídios diminuíram.

Que outros dados corroboram essa tese?

ARAÚJO: Um estudo americano comparou municípios do Texas e concluiu que a queda do crime violento, como o homicídio, ocorreu principalmente devido à prisão. Mas quando o crime é de propriedade, como roubo, outros fatores influenciam, como a oportunidade econômica. Quando você diminui o desemprego, melhora os salários, tem queda nos roubos. Mas isso quase não tem importância para estupro e homicídio.

Uma das dificuldades da polícia do Rio é cumprir mandados de prisão em favelas. Como resolver isso?

ARAÚJO: Há 25 mil mandados para serem cumpridos e a maioria não vai ter confrontos. Não é prender só os líderes, o que faz efeito é prender em massa. Quem assalta à mão armada, que é uma coisa epidêmica aqui no Rio, não é necessariamente chefe do tráfico. Se tiver algum grau de periculosidade, tem que ser preso.

Mas a questão do tráfico não é importante?

ARAÚJO: Tem algumas coisas que penso diferente. É errada essa idéia de que acabando com o tráfico de drogas se acaba com a criminalidade. Muitos países conseguiram grandes avanços na redução da violência sem terem avanços na redução do consumo de drogas. As coisas não estão necessariamente juntas. Se você resolveu um dos problemas, mas não conseguiu o outro, paciência.

O importante então é dar uma sensação de segurança maior à população?

ARAÚJO: O tráfico também é um problema sério. Mas reduzir o número de homicídios não é um objetivo importante? O Rio tem seis mil homicídios por ano. Se ficar igual a São Paulo, cai para dois mil. Em dez anos, 40 mil vidas seriam poupadas.

Que outras providências deveriam ser tomadas?

ARAÚJO: Melhorar a gestão e treinar melhor a polícia são objetivos importantes. Mas acho que é preciso focar em uma tema, que prender mais, construir mais presídios.

Não seria melhor investir em projetos sociais?

ARAÚJO: Primeiro, tem que construir as penitenciárias. No futuro, investir na educação das crianças.