Título: 60 horas de obstáculos para fazer Salvatore Cacciola voltar ao Brasil
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 20/07/2008, Economia, p. 29

Polícia não estava aguardando em Paris e piloto não sabia sobre passageiro.

As 60 horas de trabalho para conseguir transportar de Mônaco ao Rio o ex-banqueiro Salvatore Cacciola - encerradas na quinta-feira - pareceram intermináveis para a comitiva que o acompanhava: o procurador regional da República no Rio, Arthur Gueiros (que faz a acusação no caso), os delegados Luiz Pontel e Marcelo Andrade (da Polícia Federal, representantes da Interpol no Brasil), o chefe do Serviço de Extradições do Ministério da Justiça, Rodrigo Sagastume, e um agente federal.

Ao longo do trajeto, obstáculos chegaram a ameaçar um atraso ainda maior. Ao chegarem a Paris, na saída do finger, deveria haver policiais à espera, mas não havia. O grupo procurou-os pelo aeroporto - com Cacciola sem algemas -, até encontrá-los e descobrir que a equipe de terça-feira sabia da chegada, mas a de quarta-feira, não.

- Se ele (Cacciola) não colaborasse, seria um dia a mais numa cela do aeroporto de Nice, que era precária. Reconheço que ele colaborou. Poderia dar um ataque, tentar retardar a extradição - disse Gueiros.

O grupo foi de helicóptero de Mônaco a Nice, onde tomou um avião até Paris para voltar ao Rio. De Nice para Paris, o comandante do vôo, que não fora informado oficialmente da presença de um preso, quis saber se era um terrorista.

- Se o comandante achasse que havia risco para passageiros, poderia não nos deixar embarcar - contou Gueiros.

Remanejamento no Ary Franco teria revoltado presos

O piloto só permitiu que Cacciola viajasse se fosse espontaneamente, e não carregado. Todos os trechos foram na classe econômica. De Paris para o Rio, ele viajou na última fileira, cujos assentos não reclinam.

Gueiros disse que a decisão de não algemar Cacciola foi de Pontel, condicionada à sua colaboração, sem ligação com a determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibindo o uso de algemas - que ainda não era conhecida no traslado.

Segundo fontes, na noite de quinta-feira, teria ocorrido um princípio de rebelião no Presídio Ary Franco -- para onde foi Cacciola ao chegar ao Brasil - devido ao remanejamento interno de alguns presos para garantir a segurança do ex-banqueiro. Isso provocou superlotação em algumas celas, irritando os demais presos. Até então, Cacciola ainda estava na sala da diretoria do Ary Franco, não em uma cela. De lá mesmo, ele foi para Bangu 8.