Título: Em Lourenço, rastro de mortes
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 20/07/2008, Economia, p. 31

LIGAÇÕES PERIGOSAS: De onde antes saía uma tonelada de ouro, hoje só com muito suor se conseguem 40 quilos.

DNPM interditou mina em que morreram 13 garimpeiros em 10 meses.

LOURENÇO (Amapá). O minúsculo distrito de Lourenço já foi o Eldorado para os garimpeiros e um berço da fartura do ouro no Amapá. Mas, hoje, a localidade, que fica no extremo norte do país e a 140 quilômetros do Oiapoque, vive outro cenário: desemprego, miséria, prostituição e ausência do Estado. O boom do minério, que ocorreu entre as décadas de 80 e 90, deixou apenas um rastro de abandono. No auge da extração, chegou a ser retirada uma tonelada de ouro da mina subterrânea Salamangone. Hoje, os garimpeiros precisam suar muito para extrair 40 quilos mensais.

Nessa fase de ouro do garimpo, a Salamangone era controlada pela Novo Astro, empresa ligada ao empresário Eike Batista, segundo fontes do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Ele deixou de explorar a reserva em 1995 e levou todo o maquinário. A população se ressente do que trata como abandono e lamenta a desativação da empresa na região. Ao mesmo tempo em que lembram da fase próspera, os garimpeiros se queixam desse fim abrupto. Com a saída da Novo Astro, o governo do estado passou a concessão da exploração para a Cooperativa de Garimpeiros do Lourenço (Coogal).

Lourenço tem cerca de 3,5 mil habitantes. É localidade de uma rua só, onde se concentram o comércio, os bares e as prostitutas. Falta infra-estrutura, como esgoto em todo município.

- O que está aqui é o que sobrou. Levaram nossa riqueza toda e só deixaram a pobreza - disse Antônio Mendes de Paulo, dono do único hotel da cidade.

Desde março, a mina está interditada pelo DNPM, depois da morte de 13 garimpeiros em dez meses.

Por meio de sua assessoria, Eike Batista informou que a Salamangone era de propriedade da CMA Participações.