Título: Decisão teve aval do presidente
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/07/2008, Economia, p. 23

Lula disse para Meirelles fazer o necessário para conter preços.

BRASÍLIA. Apesar de impopular, a decisão do Copom de acelerar o ritmo de alta dos juros foi estimulada pelo Palácio do Planalto. Em conversa recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinal verde para o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, fazer o que for preciso para conter a escalada dos preços. Ontem, Meirelles teve outro encontro reservado, e fora da agenda oficial, com Lula, ao qual fez uma avaliação do cenário econômico e de pressão inflacionária.

O presidente está muito preocupado com a inflação, embora insista publicamente que a questão ainda não é grave. A postura difere da de abril, quando o BC retomou a política de alta da Selic. O aumento de 0,5 ponto percentual, contra consenso de mercado de 0,25 ponto, deixou o presidente contrariado com Meirelles, a quem taxou de precipitado.

Ele fazia coro com a avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A equipe econômica sustentava que o segundo semestre seria de queda nos preços dos alimentos, principal foco de pressão, devido à safra e à redução das cotações internacionais das commodities.

Agora, Lula avalia os indicadores com extrema cautela. Em conversas com auxiliares, considera que a volta da inflação pode ser um problema mais grave para o governo do que qualquer crise política, até porque o problema ocorre em meio a um cenário internacional adverso, pela primeira vez em seis anos de mandato. O descontrole dos preços pode custar uma redução do ritmo de expansão econômica e perda de renda do trabalhador, trunfos que Lula quer ter como marcas.

Governo quer tirar inflação do palanque da oposição

Além disso, ministros do governo consideram ainda que a volta da inflação pode contaminar as eleições não só nos grandes centros, mas também nos grotões. Isso porque o aumento do preço dos alimentos atinge diretamente a base social que se beneficia das políticas sociais adotadas pelo governo. Pesquisas em poder do Planalto indicam que os beneficiados do Bolsa Família já começam a sentir o peso inflacionário, sobretudo no poder de compra da cesta básica. Por isso, tanta preocupação em tentar tirar o problema do palanque da oposição.

Antes de a decisão do Copom ser conhecida, Lula expressou sua preocupação com a escalada dos preços e chancelou publicamente qualquer decisão do BC. Ele, porém, disse que a cruzada contra os reajustes não o impedirá de trabalhar para manter o consumo do país em alta:

- Não vou diminuir o consumo neste país, porque o povo pobre passou a vida inteira esperando o direito de comer três vezes ao dia, o direito de entrar num shopping e comprar uma roupinha, comprar alguma coisa e isso nós vamos garantir, custe o que custar.

Mas Lula garantiu que é uma questão de honra o combate à inflação, até porque os mais prejudicados são os mais pobres. E alertou: quem apostar na volta da inflação, tem de "tirar o cavalo da chuva":

- Tomaremos as medidas que forem necessárias para que a gente mantenha a inflação controlada - disse, descartando que os projetos do PAC serão afetados.