Título: Setores produtivos e trabalhadores condenam nova alta da Taxa Selic
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Fonte: O Globo, 24/07/2008, Economia, p. 24
APERTO MAIOR: Fiesp critica coordenação das políticas monetária e fiscal.
Para representantes de entidades, medida retarda crescimento do país.
Representantes do setor produtivo condenaram a posição do Banco Central (BC) de aumentar em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros. Para as entidades de diferentes segmentos da indústria e do comércio, além dos trabalhadores, a medida retarda o crescimento econômico e desestimula a produção. Também apontam a necessidade de o governo fazer a sua parte, ou seja, reduzir os gastos públicos, caso contrário o ônus ficará sempre nas mãos do setor privado.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) seria mais eficaz se a gestão das políticas monetária e fiscal fosse compartilhada, e a sua coordenação, exercida de maneira adequada. Para o presidente da entidade, Paulo Skaf, há uma política fiscal expansionista que se caracteriza pelo crescimento continuado do gasto público e uma política monetária restritiva que, segundo ele, adota alta seqüencial na taxa de juros como única saída capaz de frear a expansão do consumo e do investimento.
"Temos, desta forma, um quadro surreal de política econômica, cujo resultado é uma taxa de juros muito elevada, vitimando a sociedade com prejuízos imediatos. Um exemplo disso está na sobrevalorização da taxa de câmbio que, cada vez mais, compromete a competitividade do produto brasileiro", diz Skaf em nota.
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) reforça que o setor público precisa dar sua contribuição com a contenção de gastos que permitirão que o ônus do ajuste não fique exclusivamente com o setor privado, à custa de menor crescimento.
Representante sindical: reajuste salarial é dificultado
Para o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, "o aperto monetário será ineficiente, caso seja mantido o patamar atual de gastos públicos". De acordo com Diniz, com juros altos o país cresce menos e a arrecadação diminui.
Segundo a Fecomércio-SP, o aumento da Selic representará o fim de um período de crescimento do PIB para a volta de resultados "medíocres, iguais ou inferiores a 3% ao ano, a partir de 2009". A entidade afirma que o governo deveria ter feito uma política de contenção dos gastos públicos.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, afirma que a medida é impopular e irá dificultar o investimento das empresas na produção, além de prejudicar a campanha salarial de cerca de 3,5 milhões de trabalhadores que estão negociando reposição de perdas e aumento real de salário com os patrões.
Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, diz que a alta da taxa de juros prejudica o ciclo de crescimento sustentado, atrapalha a ampliação da oferta de alimentos e tem pouca eficácia contra a inflação do setor.
Na avaliação de João Claudio Robusti, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), a alta foi "um exagero", que contribuirá ainda mais para retardar o crescimento econômico e desestimular a produção.