Título: Para Amorim, reunião foi totalmente inútil
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 22/07/2008, Economia, p. 24

Europa diz ter chegado ao limite de suas ofertas, mas proposta de reduzir tarifas agrícolas em até 60% não muda nada.

GENEBRA e BRASÍLIA. O primeiro dia de negociações sobre a liberalização do comércio mundial foi "totalmente inútil", afirmou ontem o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Mais de 30 ministros estão reunidos na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, para tentar salvar a Rodada de Doha, como são chamadas as negociações para liberalização do comércio global. Se não houver acordo agora, a Rodada cairá num limbo de pelo menos três anos.

- Sem surpresas, mas também sem idéias. Estamos no mesmo ponto anterior da reunião - afirmou Amorim à agência de notícias AFP. - Talvez tenha sido uma reunião necessária, era preciso fazê-la, mas foi, na verdade, totalmente inútil do meu ponto de vista, porque não ouvi nenhuma idéia nova, nenhuma sugestão. Esperemos amanhã (hoje).

Pela manhã, o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, havia criado a expectativa de que os europeus iriam avançar na sua proposta agrícola: em vez de reduzir suas tarifas agrícolas em 54%, como na atual proposta, a UE estaria pronta a ir até 60%. Mas, horas depois, os próprios europeus desqualificaram as declarações de Mandelson, assegurando que "nada mudou" e que os 60% se devem, na verdade, à inclusão de produtos tropicais, cuja redução de tarifas já estava prevista.

Amorim: proposta da UE foi "pura encenação estatística"

Amorim classificou a oferta de Mandelson de "pura encenação estatística" e se queixou de que europeus e americanos não tocaram em nenhum dos produtos de interesse do Brasil: frango, etanol ou açúcar. O governo brasileiro teme que os europeus estejam fazendo uma manobra para incluir o etanol numa lista de produtos sensíveis - o que, na prática, significa menos espaço para a ambição brasileira de exportar mais álcool combustível para a UE.

- Ora, os 60%! É muito fácil produzir 60%, 90%, quando escolho os produtos em que ninguém está interessado ou que poucos exportam. Eu quero saber o que eles vão fazer com frango, etanol, açúcar. É isso que me interessa - disse Amorim.

Mas a a presidente do Conselho de Ministros da UE, Anne-Marie Idrac, deixou clara a posição européia:

- Chegamos ao limite das nossas ofertas. Nem mais, nem menos.

Michel Barnier, ministro de Agricultura da França - o país da UE que mais resiste à abertura - foi taxativo:

- Se eles (os brasileiros) pedem mais do que já demos, é muito. Francamente, já oferecemos muito.

A Oxfam classificou ontem de hipocrisia o fato de EUA e UE pedirem mais concessões das economias emergentes. Para o diretor da ONG, Jeremy Hobbs - que chamou a proposta de Mandelson de ultrajante -, há poucas chances de alcançar um acordo de comércio global esta semana. Já a ActionAid afirmou em nota que é melhor não chegar a qualquer acordo do que fazer um acordo ruim.

Saldo da balança cai 62% na terceira semana de julho

O saldo da balança comercial brasileira caiu de US$1,225 bilhão na segunda semana para US$459 milhões na terceira semana deste mês, em queda de 62,5%. Em relação ao mesmo período do ano passado, as exportações aumentaram 4,9%, bem abaixo do aumento de 18% das importações. No mês, o superávit é de US$1,989 bilhão, resultado de US$11,844 bilhões em vendas e US$9,855 bilhões em compras. O saldo acumulado no ano é de US$13,339 bilhões, contra US$22,934 bilhões em 2007.

No acumulado do mês, em comparação a julho de 2007, as exportações cresceram 31,8%, sendo 48,3% de produtos básicos e 41,2% de semimanufaturados. Já as importações aumentaram 43,7%.

COLABOROU Eliane Oliveira, com agências internacionais