Título: Perigo sob as águas
Autor:
Fonte: O Globo, 22/07/2008, Ciência, p. 29

Destruição dos pantanais agrava o aquecimento global.

Cada vez mais ameaçadas pela ação do homem, as áreas alagadas, naturais sorvedouros de CO2 e metano, podem liberar colossais quantidades de gases do efeito estufa na atmosfera, agravando os efeitos do aquecimento global. O alerta é de cientistas que estão reunidos em Cuiabá, onde acontece a VIII Conferência Internacional de Áreas Úmidas, que tem o tema ¿Grandes áreas úmidas, grandes preocupações¿. Promovido pela Sociedade Internacional de Ecologia (Intecol) e organizado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pelo Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP), o evento acontece pela primeira vez na América Latina, reunindo em torno do maior bioma do gênero ¿ o Pantanal brasileiro ¿ 700 pesquisadores de 28 países.

¿ O mundo precisa despertar de forma urgente para entender e apreciar plenamente o papel ambiental, social e econômico que essas áreas desempenham ¿ diz Paulo Teixeira, secretário-executivo do Centro de Pesquisas do Pantanal e um dos coordenadores do encontro. ¿ As áreas alagadas absorvem e retêm carbono, moderam os níveis de água e abrigam uma grande biodiversidade. Por isso, é fundamental o estabelecimento de políticas públicas para a conservação e o uso sustentável destas áreas.

Áreas alagadas retêm 20% do CO2

As mudanças climáticas estão igualmente por trás de alguns dos principais problemas enfrentados por esses ambientes, já que as temperaturas em elevação estariam acelerando as taxas de decomposição de material orgânico retido neles, causando também evaporação e a redução das precipitações.

Cobrindo cerca de 6% da superfície do planeta, as áreas alagadas (que incluem manguezais, pântanos e tundras, entre outros) contêm cerca de 20% do CO2 existente na Terra. Elas atuam retardando a decomposição de material orgânico retido por séculos em condições de baixo oxigênio. Tais regiões alagadas ¿ permanentemente ou de forma sazonal ¿ aprisionam cerca de 771 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa.

¿ Pensava-se que as áreas alagadas eram um problema à espera de uma solução ¿ conta Konrad Osterwalder, reitor da Universidade das Nações Unidas (UNU). ¿ Hoje, sabemos que são áreas essenciais para a saúde do planeta. E que seus problemas são causados por supostas soluções criadas pelo homem, como as drenagens.

De acordo com os cientistas, se o declínio dessas áreas continuar acontecendo, o aquecimento global será agravado, já que alguns trechos de florestas drenadas liberam cerca de 40 toneladas de gás carbônico por hectare anualmente.

¿ Reduzir o estresse nas áreas alagadas, causado pela poluição ou outras formas de ação humana, pode representar uma importante estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas ¿ garante o especialista Wolfgang Junk, do Instituto Max-Planck de Estudo de Águas Doces, da Alemanha.

O pesquisador alemão lembra que 60% das áreas alagadas em todo o mundo foram destruídas nos últimos cem anos. Entre as causas, estão a drenagem para fins agrícolas, construções de canais ou desenvolvimento urbano.

¿ As áreas alagadas atuam como se fossem esponjas, absorvendo CO2 ¿ ressalta. ¿ Além disso, elas previnem enchentes e protegem as margens dos rios da erosão.