Título: Candidatos condenam currais eleitorais no Rio
Autor:
Fonte: O Globo, 26/07/2008, O País, p. 8

Jandira e Paulo Ramos dizem que políticos se beneficiam; Gabeira, Solange e Chico cobram providências; Paes elogia segurança

Fábio Vasconcellos, Marcella Sobral e Cássio Bruno

Um dia após a apreensão de uma ata em que o tráfico da Rocinha deixa claro que pretende controlar os votos da comunidade em favor de um único candidato a vereador, os candidatos a prefeito do Rio criticaram a formação de currais eleitorais na cidade. Jandira Feghali (PCdoB) disse que a associação do nome de alguns candidatos ao tráfico de drogas e milícias pode mudar o resultado das eleições no Rio.

- Pode (mudar), sem dúvida. No nosso caso não, porque, dos nossos 200 vereadores, nenhum tem ligação com milícia ou tráfico. Há uma intimidação, o que é ruim para a democracia - disse Jandira, lembrando que já fez corpo-a-corpo na Rocinha e que pretende voltar à comunidade. - Vamos caminhar em todas as comunidades porque nós não vamos lá só na hora do voto, temos representação local com nossos vereadores. É claro que pode haver problemas, mas isso a gente só vai ver quando estiver lá. Não vou levar polícia, nem segurança.

Para o candidato a prefeito pelo PV, Fernando Gabeira, a associação de um movimento de esquerda radical, no caso o MST, e o narcotráfico em torno do apoio a um candidato na Rocinha lembra o modelo implantado pela Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc). Gabeira acredita que os novos fatos não deverão trazer problemas para a campanha dos prefeitos, mas espera que o poder público investigue as suspeitas:

- Não sei se o José Rainha (líder dos sem-terra) ainda representa o MST, mas houve um encontro. Por outro lado, ficou claro que o narcotráfico tem um candidato, e isso pode ser uma associação explosiva.

Ao falar dos currais, Solange ataca Paes

Após perder pontos e ver Eduardo Paes (PMDB) subir na última pesquisa Datafolha, a candidata do DEM, Solange Amaral, atacou o adversário. Segundo ela, o peemedebista defende as milícias:

- O candidato do PMDB, que foi do PSDB, do PFL, do PTB, do PV, defende as milícias. Ele acha que as milícias levam tranqüilidade para as comunidades. Não é o que eu penso. Milícia é um poder paralelo igual ou até pior do que o poder do tráfico.

Sobre a situação na Rocinha, a candidata disse que vai marcar um corpo-a-corpo na favela:

- Espero que a Justiça Eleitoral corrija e impeça as candidaturas que tenham apoio do tráfico abertamente.

Em resposta, Paes se limitou a elogiar a política de segurança pública atual:

- Sou o candidato do governador, que detém o comando das forças policiais, e, para meu orgulho, ele está agindo com muita firmeza contra traficantes e milicianos. Não tenho tido nenhum tipo de constrangimento.

Sobre currais eleitorais, Paes disse que, em seu partido, não tem conhecimento de nenhum candidato nessa situação. Mas, reconheceu que, em sua coligação, não há como botar a mão no fogo por ninguém. Embora não seja candidato, o vereador Jerônimo Guimarães (PMDB), o Jerominho, está preso acusado de comandar milícias.

Baseado no caso da Rocinha, Chico Alencar (PSOL) protocolou ontem ofício no Tribunal Regional Eleitoral pedindo informações sobre o combate aos currais eleitorais:

- Vou propor um pacto entre os candidatos. Devemos fazer uma declaração conjunta pela responsabilidade política contra currais eleitorais e monopólios.

Para Paulo Ramos (PDT), os candidatos dos governos municipal e estadual estão se beneficiando dos currais eleitorais.