Título: Aumentam as chances de um acordo na OMC
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Fonte: O Globo, 26/07/2008, Economia, p. 23

Para Amorim, aposta em consenso sobe de 50% para 65%. Negociador da UE cria polêmica com etanol brasileiro

GENEBRA. O quinto dia de negociações da Rodada de Doha renovou as esperanças de que um acordo possa ser firmado, com a apresentação de uma nova proposta pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, avaliou que as chances de se chegar a um consenso "subiram de 50% para 65%", mas que seriam necessários mais dois ou três dias de conversas. Índia, Argentina e EUA, porém, se mostraram reticentes quanto a um possível acordo.

Os principais pontos da nova proposta de Lamy foram a redução do teto para os subsídios americanos de US$15 bilhões - como proposto pelos EUA esta semana - para US$14,5 bilhões e a possibilidade de exclusão do acordo de liberalização comercial de 12% dos produtos para exportação de cada país. Até agora, os países em desenvolvimento poderiam excluir 14% dos produtos.

- O Brasil foi o primeiro país a aceitar o texto - disse Amorim, que disse ter sido orientado pelo presidente Lula a "ser flexível, se outros países mostrarem flexibilidade e se o resultado final for favorável aos mais pobres".

- O que está sobre a mesa não é perfeito, mas enfim foi estruturado o que poder ser um impulso genuíno para a economia mundial - disse o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson.

O ministro de Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, disse, porém, que tem "observações sérias" a respeito da proposta de Lamy. A Índia também não se mostrou receptiva à nova proposta. A representante de Comércio dos EUA, Susan Schwab, tampouco demonstrou otimismo, afirmando que "grandes mercados emergentes estão ameaçando a rodada".

As negociações de ontem também foram marcadas por uma nova polêmica envolvendo Amorim. Na quinta-feira à noite, Mandelson escreveu em seu blog ter feito uma oferta que poderia abrir "um novo acesso significativo e valioso" ao mercado europeu para o etanol brasileiro. Sem dar detalhes da proposta, disse que "surpreendentemente, devido à importância dessa questão em Brasília, Amorim pareceu minimizar o valor de tal oferta para o Brasil." Em entrevista à BBC Brasil, a delegação brasileira em Genebra afirmou que desconhecia a oferta e acusou Mandelson de tentar "causar intrigas."

- É preciso ver a que tipo de proposta Mandelson se refere. Amorim já tinha falado que desconfiava que a UE tentaria estabelecer cotas para o etanol. Se essa foi a proposta, é lamentável - rebateu um negociador brasileiro.

Negociadores disseram a jornalistas que a proposta se trata de uma cota para exportação de cerca de 1,4 milhão de toneladas de etanol por ano para a UE até 2020, com tarifa de 10%, menor do que o imposto-padrão de cerca de 40%. Em troca, a UE exigiria mais abertura do setor industrial brasileiro às importações européias.