Título: Sociólogos e economistas elogiam
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 25/07/2008, O País, p. 13
Mas ressalvam que vagas só atendem 1,6% dos 11 milhões de atendidos.
BRASÍLIA. Sociólogos e economistas aplaudiram a iniciativa do governo de oferecer cursos profissionalizantes a beneficiários do Bolsa Família. Eles ressalvaram, no entanto, que o alcance da qualificação profissional será limitado, uma vez que as 185 mil vagas serão suficientes para atender apenas 1,6% dos 11 milhões de beneficiários. Os especialistas lembram também que a criação de uma porta de saída do Bolsa Família depende da geração de empregos, que está atrelada ao crescimento econômico.
O diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), Elimar Nascimento, considera a proposta engenhosa, por vincular os cursos à oferta de emprego. Segundo ele, a oferta de cursos dará início à segunda etapa da política social do governo Lula, depois do êxito do Bolsa Família em fazer o dinheiro chegar à população mais pobre.
- O programa Bolsa Família terá tanto mais sucesso quanto menor o número de pessoas que dele dependem. O sucesso, do ponto de vista estratégico, é não existir. Após chegar aos pobres, vencendo a burocracia e as artimanhas políticas, o objetivo é criar condições para que as pessoas saiam - disse.
O professor da UnB acompanhou discussões acadêmicas sobre a proposta, que classifica como a primeira medida concreta do governo rumo a uma porta de saída. Segundo ele, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, resistia ao conceito de porta de saída
- Patrus inicialmente não queria escutar falar em porta de saída, dizendo que era falta de educação quem apontava a porta da rua para as pessoas. Nada a ver. A porta significa ganhar independência e a possibilidade de maior cidadania.
Parceria para geração de empregos é "ponto principal"
O sociólogo Simon Schwartzman, que é pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) e foi presidente do IBGE no governo Fernando Henrique, sublinhou que a absorção da mão-de-obra treinada dependerá do ritmo da economia brasileira. Daí a importância de que os cursos sejam dados em setores aquecidos. Ele elogiou a parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). A Cbic promete emprego aos profissionais.
- Esse é o ponto principal. Do contrário, o beneficiário volta para casa sem ter o que fazer - disse Schwartzman.
O professor de Finanças da Faculdade Ibmec, no Rio, Nelson de Sousa, disse que a formação profissional é uma solução mais eficiente do que apenas repassar dinheiro:
- As pessoas podem e devem ser ajudadas durante um certo tempo. Mas isso não pode ser um meio de vida. As pessoas não podem viver assim para sempre. Isso causa um ônus ao Estado.
Para o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT), somente a melhoria da educação, especialmente do ensino médio, abrirá a porta de saída do Bolsa Família. Ele apóia, no entanto, a qualificação profissional:
- Não entendo como o governo esperou cinco anos para fazer isso.