Título: Inflação encolhe alta da renda no 1º semestre
Autor: Villas Bôas, Bruno
Fonte: O Globo, 25/07/2008, Economia, p. 25

APERTO MAIOR: Nível de ocupação atinge 52%, um recorde para os primeiros seis meses do ano, mostra IBGE.

Valor avançou 2,3%. Desemprego foi de 7,8% no mês passado, o menor índice para junho desde 2002.

O aumento da inflação, aliado ao avanço da população ocupada - os salários iniciais são menores que os pagos a quem já está no mercado, reduzindo a média -, começa a frear o ritmo de expansão da renda do trabalhador nas seis principais regiões metropolitanas do país. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE, o rendimento médio real da população ocupada cresceu apenas 2,3% no primeiro semestre, sobre igual período de 2007, o menor ritmo desde 2005. Já a taxa de desemprego recuou de 7,9% em maio para 7,8% em junho, a quarta queda consecutiva. Também foi o menor percentual para o mês desde o início da série histórica, em março de 2002.

O aumento da inflação foi o principal responsável pela expansão menor da renda. Mas o gerente da PME, Cimar Azeredo, citou, além do crescimento da população ocupada, o aumento da terceirização em empresas privadas - que gera empregos com perfil de menor rendimento, como nos segmentos de segurança e limpeza.

- O resultado deste ano não repetiu o expressivo desempenho de 2007, quando a alta da renda real foi de 4,4% no primeiro semestre frente a igual período do ano anterior. Mas não se pode culpar apenas a inflação. Ela não foi a única culpada - explicou Azeredo.

Rendimento médio real atingiu R$1.220,04

Apesar do menor ritmo de expansão, o rendimento médio real do primeiro semestre, de R$1.220,04, foi um recorde para o período.

Em junho, a renda real da população ocupada apresentou queda de 0,3% em comparação a maio, segunda redução consecutiva. Em maio, foi apurado um recuo de 1% sobre o mês anterior. Frente a junho do ano passado, o IBGE apurou um aumento de 1,7%, ritmo também inferior ao de anos anteriores. Azeredo frisou que, pelo histórico, a tendência é de estabilidade na renda para o próximo mês.

Já o nível de ocupação registrou resultado recorde na média das seis regiões. Segundo o IBGE, o nível de ocupação no primeiro semestre deste ano chegou a 52%, maior da série histórica para esse período. No primeiro semestre de 2007, foram 51%. Azeredo disse que o resultado mostra a força do mercado de trabalho, que vem reagindo desde 2005. Ele lembrou que o número de ocupados se expande em ritmo muito superior ao da população em idade ativa (acima de dez anos, que cresce 1% ao ano).

- O aumento do nível de ocupação foi positivo para a Previdência Social porque foi acompanhado de um aumento da formalização do mercado de trabalho, que registrou resultado recorde no primeiro semestre - disse o gerente.

Participação de trabalhador formal sobe para 58%

A participação dos trabalhadores formais (com carteira assinada e funcionários públicos) no total dos ocupados subiu de 56% para 58% na comparação entre os primeiros semestres de 2007 e 2008. Azeredo explicou que isso resulta da maior terceirização no setor privado e de uma fiscalização mais intensiva.

Segundo ele, 44% dos trabalhadores que têm carteira assinada estão no setor privado. Em junho, foram criados 829 mil postos com carteira assinada apenas no setor privado, dos quais quase a metade (415 mil) na Região Metropolitana de São Paulo.

Para Cláudia Oshiro, economista da Tendências Consultoria, a trajetória da renda real deve ser ainda menos favorável neste segundo semestre, com um crescimento robusto na taxa de ocupação e a manutenção de pressões inflacionárias com os alimentos.

- O IBGE utiliza o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que é muito pressionado pelo preço dos alimentos. O trabalhador tende a ter um menor poder de compra - afirmou a especialista.