Título: Depósito de lixo pode inviabilizar usina de Angra 3
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 25/07/2008, Economia, p. 27

Eletronuclear quer rever exigências. Greenpeace protesta no Rio acorrentando retrato do presidente do Ibama.

Se o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) insistir que a Eletronuclear terá que resolver, antes do início das operações de Angra 3, a questão do lixo nuclear, a usina corre o risco de não sair do papel em 2014. A avaliação é do assistente da presidência da estatal, Leonam dos Santos Guimarães, que considera "exíguo" o prazo da licença prévia concedida na última quarta-feira. A construção de Angra 3 é de responsabilidade da estatal e vai custar R$7,3 bilhões.

- Vamos chegar a um entendimento com o Ibama em relação ao prazo para a solução do lixo nuclear - avalia Guimarães, comentando que pode ter ocorrido um problema de interpretação de um dos itens de 60 restrições feitas pelo Ibama.

Lixo nuclear de Angra 1 e 2 é de 100 metros cúbicos

Com capacidade para produzir 1,4 mil megawatts/ hora, Angra 3 vai gerar o mesmo volume de rejeitos nucleares de Angra 2 - que opera com a mesma capacidade de produção da nova usina. As usinas Angra 1 e 2, inauguradas em 1985 e 2001, respectivamente, produziram, desde a entrada em operação até hoje, 100 metros cúbicos de lixo nuclear.

São lixos nucleares os resíduos de baixa e média atividades como papel, plástico, luva, vestimenta, ferramenta, filtro, resina, gás e líquido contaminado. Já os elementos combustíveis de alta atividade, tecnicamente, não são considerados lixo porque podem ser reutilizados, explicam os técnicos da Eletronuclear.

- Desde a entrada em operação de Angra 1 e 2, esses elementos vêm sendo guardados em piscinas construídas nos prédios dos reatores - explicou Guimarães, calculando que Angra 1 já armazenou 614 elementos combustíveis e, em Angra 2 foram 272.

Segundo ele, apenas dois países no mundo, Estados Unidos e França, já iniciaram a implantação de depósitos considerados mais seguros. Nos Estados Unidos, a previsão é que o depósito entre em operação em 2017 e, na França, em 2025.

Greenpeace acorrenta presidente do Ibama

Os ambientalistas do Greenpeace protestaram, ontem, no Ibama do Rio, contra a licença assinada pelo presidente do órgão, Roberto Messias.

Vestindo roupas de segurança nuclear, os ativistas acorrentaram nos portões do Ibama um retrato do presidente do órgão, com a frase: "O Messias chegou e traz más notícias".

- Messias vai entrar para a história como o homem que assinou a licença de um elefante branco radioativo, e Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, como o ministro que lavou as mãos - avalia Ricardo Baitelo, diretor do Greenpeace.