Título: Apareceu o iceberg
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2009, Mundo, p. 22

Análise da notícia

Gordon Brown não tem, até onde se sabe, nenhuma responsabilidade pessoal na farra de despesas que arrastou na lama a imagem do Parlamento mais tradicional do mundo. Mas é bem possível que o primeiro-ministro britânico pague a conta pelo escândalo, no qual lambuzaram as mãos deputados do governo e da oposição. Gastança em plena crise, com o desemprego em alta, será sempre pecado na conta da situação, abaixo ou acima da linha do Equador.

Tanto mais irônico para Gordon Brown, que já tinha chegado ao poder, no ano passado, com a legitimidade política sob dúvidas. Afinal, ele apenas herdou o cargo de Tony Blair ¿ este, sim, eleito e reeleito. Quando Blair decidiu aposentar-se, seu partido já vinha em baixa. Seu sucessor, até então ministro das Finanças, recebeu como ¿boas-vindas¿ dos eleitores o pior resultado em muitas décadas no pleito municipal de 2008, quando os trabalhistas amargaram um humilhante terceiro lugar.

A volta dos conservadores à chefia do governo parecia questão de tempo quando a crise financeira irrompeu, e Brown credenciou-se perante o mundo como ¿o homem certo no momento certo¿. Sóbrio e objetivo em meio à tormente, o premiê parecia ter avistado porto seguro e credenciava-se a referendar no voto o papel de timoneiro. Até que um iceberg rompeu o casco do transatlântico. (SQ)