Título: De Haia para o Rio, procuradora mira na corrupção
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 27/07/2008, O País, p. 13

Nova chefe da Procuradoria Regional da República no Rio investigou crimes de Milosevic, Garotinho e Lins

Flávio Tabak

No 19º andar de um prédio na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, em frente ao maior camelódromo da cidade, a nova procuradora-chefe da Procuradoria Regional da República (Rio de Janeiro e Espírito Santo) diz trabalhar dia e noite para combater a corrupção. A curitibana de 46 anos Cristina Romanó, que tomou posse no último dia 14, tem como uma das principais funções elaborar denúncias contra pessoas que tenham prerrogativa de foro, principalmente deputados estaduais e prefeitos.

Ex-bailarina clássica e jogadora de vôlei, a procuradora, divorciada e sem filhos, estava há três anos em Haia, na Holanda, no Tribunal Criminal Internacional, acusando o "Açougueiro dos Bálcãs" e ex-líder da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, por crimes de guerra no Kosovo. Milosevic, que morreu na cela da prisão da ONU em 2006, chamava Cristina, durante as sessões no tribunal, de "a lourinha do lado de lá". Durante as investigações, Cristina ficou 20 dias se alimentando somente de macarrão e água, sem tomar banho, enquanto seguia rigorosamente os passos dos seguranças:

- Andava nos passos deles por causa das minas terrestres. Dois morreram. Tinha uma equipe com patologistas e detetives para exumar os corpos no Kosovo.

A procuradora também foi uma das responsáveis pela investigação que culminou na prisão do deputado estadual Álvaro Lins (PMDB) e pela devassa na casa do ex-governador Anthony Garotinho, denunciado por formação de quadrilha armada na Operação Segurança Pública S.A.

À frente da procuradoria, Cristina vê no Rio um emaranhado de corrupção que envolve várias esferas de poder:

- Acho o Rio sui generis em relação aos outros estados, pela situação das favelas, da milícia, do tráfico, do jogo do bicho com essas famílias. Um emaranhado que permeia o poder público. Minha prioridade será o combate à corrupção - diz.

Cristina considera, no entanto, que o Brasil está avançando no combate à corrupção. As sucessivas operações refletem, segundo a procuradora, o "começo de um longo caminho", por mais que as leis ainda não ajudem como deveriam depois que as operações são deflagradas. Outro ponto negativo, na opinião da procuradora, são os constantes conflitos entre Polícia Federal e Judiciário.