Título: Beltrame: precisaria de dez mil homens
Autor: Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 30/07/2008, O País, p. 3

Secretário diz que não pode deslocar efetivo do interior, mas aceita ajuda como no Pan

Fábio Vasconcellos e Adauri Antunes Barbosa

RIO e SÃO PAULO. O secretário estadual de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, admitiu ontem que não terá como ampliar o policiamento ostensivo nas áreas apontadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) como locais onde há currais eleitorais. Ele afirmou que, para melhorar o trabalho ostensivo nessas áreas, precisaria de pelo menos dez mil homens.

- Não tenho como deslocar homens do interior e deixar outras regiões desguarnecidas. Se quiserem nos ajudar com esse efetivo, aceitamos. Isso aconteceu durante o Pan, e o evento foi aprovado por todos.

O secretário disse que o setor de inteligência da Secretaria e das polícias Civil e Militar vão repassar informações à Polícia Federal sobre a existência de crimes eleitorais. Segundo ele, há informações para a realização de novas prisões nos próximos 60 dias:

- O trabalho será coordenado pela Polícia Federal. Mas, se pedirem o nosso apoio nessas operações, estamos prontos para atender.

"Se não enxugarmos gelo, o Rio vira um grande iceberg"

Beltrame criticou a visão de alguns moradores de favelas, que aprovam a ocupação da milícia:

- Os efeitos são os mais perversos possíveis. Havia pessoas que achavam que milícia era uma coisa boa, mas isso está mudando, graças a Deus. A milícia ganha força nas comunidades como o tráfico, oferecendo benefícios. Muita gente critica o trabalho da polícia, dizem que estamos enxugando gelo. Se não enxugarmos gelo, o Rio de Janeiro vai se transformar num grande iceberg.

Em São Paulo, antes do término da reunião da cúpula da polícia do Rio com o TRE, o governador Sérgio Cabral (PMDB) disse ser favorável à presença imediata de uma força-tarefa no estado, para reforçar a segurança no processo eleitoral. A necessidade de convocação dessa força será discutida hoje, em Brasília, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para ele, a força deveria ser mandada imediatamente e ficar "inclusive depois das eleições".

- A Força Nacional de Segurança poderia vir imediatamente e ficar, inclusive, depois das eleições nos ajudando - afirmou o governador.

Para Cabral, essa presença "é sempre necessária" para combater as "feições muito brutas" da violência:

- A questão da segurança nos grandes centros, mas principalmente no Rio, tem feições muito brutas. Temos essa coisa das milícias. Há parlamentares e policiais presos, o tráfico de drogas, um grau de armamento, uma presença em comunidades, é uma presença muito significativa. Então, a Força de Segurança nos auxiliando é excepcional. É excepcional.

Embora seja favorável, o governador lembrou que o pedido para que haja a presença da força no Rio deve ser feito pelo TRE. Disse, no entanto, que assinaria "com o maior prazer" o pedido com o presidente do órgão, desembargador Roberto Wider.

- Se o TRE desejar que eu assine a solicitação com eles, assinarei com o maior prazer. Acho que o TRE é a autoridade maior para dizer neste momento: "sim, vamos solicitar".

Cabral disse que conversou anteontem com Wider, que concordou com os argumentos:

- É muito grave ter candidatos que não conseguem entrar em áreas ou beneficiados por estruturas paralelas e, mais grave ainda, jornalistas não podendo realizar o seu trabalho. Daí que eu disse que o estado vê com muito bons olhos a vinda de uma força-tarefa ou como quer que se chame.

Cabral afirmou que o Rio "precisa de ajuda, sim".

- Não tenho esse complexo: "Ah, não vou pedir ajuda porque é sinal de que estamos deficientes".