Título: Rio cria sua força-tarefa
Autor: Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 30/07/2008, O País, p. 3

PF, PM e Polícia Civil trabalharão juntas com TRE, que descarta pedir o Exército

Elenilce Bottari

Em reunião ontem no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio para discutir a interferência de milícias e de traficantes nas eleições municipais, o presidente do tribunal, desembargador Roberto Wider, o secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame, e o superintendente da Polícia Federal no Rio, delegado Valdinho Jacinto Caetano, acertaram a criação de um grupo de trabalho que vai reunir as polícias Civil, Militar e Federal. Essa força vai apurar e combater a imposição de candidatos do tráfico e das milícias em favelas da cidade e tentar garantir o direito de ir e vir dos candidatos.

Na mesma reunião, o superintendente da PF anunciou que já solicitou reforços de outros estados para o trabalho de inteligência no Rio. O resultado da reunião e os levantamentos feitos pelo TRE-RJ, pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e pela Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal serão levados para a reunião hoje com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ayres Britto, e o ministro da Justiça, Tasso Genro.

"Dentro de dias, haverá resultado"

Pelo menos por agora, Wider afirmou que não acha necessária a presença da Força Nacional ou de tropas militares na cidade, como havia sugerido o presidente da Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados, Raul Jungmann.

- Não precisamos de Exército neste momento, precisamos da atuação de inteligência, pessoas trabalhando em inteligência para fazer um levantamento sério. Decidimos pela criação de um grupo de trabalho que reunirá as polícias civil, militar e federal. As polícias trabalharão em conjunto municiando a Justiça Eleitoral com todas as informações e provas que puderem para, aí sim, a partir deste trabalho que não é de confronto, apurarmos essas irregularidades. As pessoas beneficiadas por essas irregularidades serão objetos de processo.

Segundo Wider, a equipe vai também dar apoio aos candidatos que queiram fazer propaganda eleitoral em localidades dominadas por milícias ou narcotráfico. Ele explicou que caberá à equipe analisar cada caso, para evitar a utilização do serviço por alguns candidatos como forma de promoção pessoal.

- Dentro de alguns dias, vocês já verão resultados deste trabalho - ressaltou.

Além de Beltrame e de Valdinho Caetano, participaram da reunião o comandante-geral da PM, Gilson Pitta Lopes, o chefe do Estado-Maior da PM, coronel Antonio Carlos Suarez David, e o chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro. Uma nova reunião está prevista para 15 de agosto, com o objetivo de aferir como está a situação e o que pode ser melhorado.

Wider: contra pirotecnias políticas

Wider voltou a afirmar que discorda da opinião de Jungmann de que o Rio vive um estado de exceção. Segundo ele, este é um momento político e deve-se evitar pirotecnias.

- Não adianta pegar o Rio de Janeiro e enchermos de Exército. As pessoas só podem ser presas em flagrante ou quando objeto de investigações. Em relação a isso, o superintendente de Polícia Federal já me informou que as investigações estão bem aprofundadas, e logo saberemos se essas pessoas terão condições de serem candidatas ou não - concluiu.

Segundo ele, as investigações serão estendidas para todo o estado.