Título: Amorim diz que G-20 vai sobreviver
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 30/07/2008, Economia, p. 27

Fiasco revela diferenças entre Brasil e Índia dentro do bloco emergente

Deborah Berlinck

GENEBRA. As negociações de Genebra revelaram diferenças importantes entre dois dos principais atores do G-20: Brasil e Índia. Mas tanto um quanto outro garantiram ontem que o bloco, que reúne os países em desenvolvimento, sobreviverá ao infortúnio das negociações da Rodada de Doha.

- O G-20 sobreviverá. Vamos ter que conversar. De repente, quando baixar a poeira - disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Kamal Nath, o ministro indiano do Comércio, teve exatamente a mesma reação:

- Claro que o G-20 vai sobreviver - afirmou.

A Índia lutou até o fim por um mecanismo que o Brasil nunca gostou, por considerar protecionista: as salvaguardas especiais, que permitiriam aos países emergentes erguer barreiras no caso de surto de importações agrícolas.

Entre os aliados, Indonésia, Venezuela e africanos

Sem acordo no G-20 sobre salvaguardas especiais, a Índia se aliou aos demais países importadores de alimentos, como Indonésia, Venezuela, países da América Central e da África. E bateu forte nesta questão. Num dado momento da negociação, quando a Índia insistia em mais concessões nesta área, o Brasil deixou de lado seu aliado do G-20 para unir-se a EUA e União Européia e apoiar um texto proposto pelo diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy.

O texto de Lamy aceitava o princípio de uma salvaguarda para países em desenvolvimento, mas não nos moldes que a Índia queria. E foi em torno das salvaguardas que as negociações fracassaram.