Título: Aids dá sinais de retrocesso
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 30/07/2008, Ciência, p. 33

Avanço ainda é tímido, mas significativo, aponta novo relatório da ONU

Demétrio Weber

Os esforços de prevenção à Aids começam a dar resultado em escala mundial. De 2001 a 2007, o número anual de novas infecções pelo vírus HIV caiu de 3 milhões para 2,7 milhões, anunciou ontem o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids). E, pelo segundo ano consecutivo, o total de mortes diminuiu: foram 2 milhões em 2007, contra 2,1 milhões no ano anterior. Mas a queda não significa que a epidemia esteja sob controle. Por dia, surgem quase 7,4 mil novos casos da doença.

A situação no Leste Asiático, onde 0,1% da população vive com o vírus, preocupa o Unaids. Embora o índice seja o mais baixo do planeta, o HIV dá sinais de avançar sobre a China, com seus 1,3 bilhão de habitantes. Em 2001, segundo o relatório, 470 mil chineses estavam infectados, número que subiu para 700 mil em 2007. Da mesma forma, o total de óbitos saltou de 15 mil para 39 mil no período.

Globalmente, a população infectada pelo HIV chega a 33 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais do que os 29,5 milhões estimados em 2001.

A África Subsaariana continua concentrando o maior número de portadores do vírus no planeta: 22 milhões ou dois terços do total. O Unaids estima que 1,9 milhão dos novos casos tenham surgido nessa região, a mais pobre do mundo, onde a taxa de prevalência entre adultos é de 5,9%. Sem os esforços de prevenção, a realidade seria bem pior, acredita o coordenador do Unaids no Brasil, Pedro Chequer:

- Em nível mundial, o grande destaque é mostrar que efetivamente o mundo está caminhando para cada vez mais usar preservativos, inclusive na África. E, como resultado, nós temos uma reversão da tendência crescente da epidemia. É um dado concreto.

Transmissão de mãe para filho pode diminuir

O relatório Global sobre a Epidemia da Aids 2008 chama a atenção para o número de crianças afetadas. No ano passado, surgiram 370 mil novos casos envolvendo menores de 15 anos. Para Chequer, é preciso melhorar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e à prevenção. Ele lembrou que já é possível evitar a transmissão vertical da gestante para o filho:

- A transmissão vertical pode chegar a zero. Temos disponível uma "vacina" que infelizmente não está sendo utilizada como deveria, inclusive no Brasil.

O Unaids estima que o investimento mundial para enfrentar a Aids seja de US$10 bilhões. Segundo Chequer, no entanto, nem tudo é gasto, especialmente na África, onde projetos esbarram em ineficiência e burocracia. Cerca de 3 milhões de pessoas estão em tratamento com o coquetel anti-aids no mundo subdesenvolvido. Isso equivale a apenas 31% da necessidade global, aponta o relatório.

Chequer enfatizou que a eficácia dos tratamentos tem levado muita gente a baixar a guarda contra a Aids. E fez um alerta:

- À medida que a sociedade se desmobiliza, as coisas começam a acontecer outra vez.