Título: Crescimento limitado em 2009
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 25/07/2008, Economia, p. 23

APERTO MAIOR

Com expectativa de alta mais intensa nos juros, bancos e economistas revisam PIB para até 3%

Juliana Rangel

Amão mais pesada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na última quarta-feira - quando elevou a taxa básica de juros Selic em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano - evidencia que o aperto deverá ser mais longo que o esperado, na opinião de especialistas. Eles dizem que os indicadores de inflação se deterioraram nos últimos meses e que o ciclo de altas de juros, iniciado em abril, terá de ser maior, comprometendo o crescimento econômico do país em 2009. A maior parte das instituições já refez suas projeções: se, antes, estimavam expansão de até 4,5% para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no ano que vem, agora já há apostas em 3%. A projeção do governo é de 5%.

O economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megali, lembra que, ao iniciar o ciclo de altas, o BC elevou a taxa em 0,50 ponto, de 11,25% para 11,75%. Na época, em um breve comunicado, a instituição afirmou que estava fazendo "parte relevante" do ajuste total.

- O mercado interpretou que o ajuste total da Selic não poderia ser maior que 1,5 ou 2 pontos percentuais. Agora, acho que será de, no mínimo, três pontos no ano (para 14,25%) - avalia Megali, que aprova um calibre maior na alta da Selic. - O uso da capacidade instalada da indústria está alto (em torno de 82%), as empresas estão com dificuldade de conseguir insumos e mão-de-obra. São sintomas de economias superaquecidas.

Para Iedi, BC olhou pelo retrovisor

Para o economista-chefe do Citibank no Brasil, Marcelo Kfoury, "as surpresas inflacionárias" não estavam permitindo que o juro real - taxa básica, descontada da inflação - subisse com as altas da Selic. É o juro real que baliza decisões de investimentos de empresas.

- Para desacelerar a demanda, é preciso aumentar o juro real. Por isso o BC optou por um reajuste mais forte da Selic - diz Kfoury.

Ele já projetava crescimentos mais baixos que a média do mercado, de 4,6% para 2008 e de 3,5% para 2009:

- Quando fizemos as estimativas, achávamos que a crise externa iria afetar mais o Brasil. Mas isso não se materializou, e transferimos a justificativa para o aumento da inflação.

O Grupo de Conjuntura da UFRJ ainda não refez suas estimativas para 2009, de 4,4%, após a nova alta da Selic. Mas o coordenador Antonio Licha garante que a previsão inicial da taxa, de 14,75% ao fim do ciclo de altas, terá de ser revista. Ele acha que, ao elevar a Selic em 0,75 ponto, o BC mirou na redução das expectativas do mercado.

Para Fausto Vieira, da Rio Bravo Investimentos, o BC poderia ter mantido o ritmo de 0,50 ponto, pois já há sinais de desaceleração, como queda da confiança do consumidor e do empresariado. Ele revisou suas estimativas de crescimento do PIB de 2009 de 3% para 4%, desde abril.

Em julho, o índice de confiança do consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV) caiu de 107 para 101,9. A confiança do empresariado, segundo a Confederação Nacional da Indústria, passou de 62 para 59 pontos entre o primeiro e o segundo trimestre.

Para o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, o BC não considerou a recente redução dos preços das commodities, que terá efeito sobre a inflação.

- Ele olhou pelo retrovisor. Endureceu na forma de agir, mas pode ser que já venha a refluir novamente para uma faixa de aumento menor da Selic, de 0,5 ponto percentual.

Ministro admite expansão menor

Ontem, o próprio ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, admitiu que a economia crescerá menos que o previsto no ano que vem. Segundo ele, todas as medidas tomadas pelo BC são importantes para conter e reduzir a inflação, "o inimigo maior do governo e do país":

- Seria uma bobagem tentar enganar. Vamos ter um crescimento menor, mas ainda é cedo para fazer previsões.

Ele admitiu que o governo está preocupado com a inflação e como o seu combate poderá afetar o crescimento, mas garantiu que não é algo alarmante. Paulo Bernardo comparou o BC a um jogador de futebol que joga na zaga (defesa):

- O BC é como um zagueiro. Saiu da área para matar a jogada. O BC resolveu abrir a caixa de ferramentas e partiu para cima. O BC não está para brincadeira com a inflação, e a orientação de Lula é batermos duro.

Ontem, o IBGE informou que a inflação medida pelo IPCA-15 - prévia do índice oficial - desacelerou mais que o esperado. O índice ficou em 0,63% em julho, contra 0,90% em junho. O mercado esperava 0,67%. O acumulado em 12 meses está em 6,30%, acima da meta, de 4,5% com margem de dois pontos para cima ou para baixo. No ano, acumula 4,33%.

COLABOROU Ramona Ordoñez, com agências internacionais