Título: Correa golpeia oposição em Assembléia
Autor:
Fonte: O Globo, 25/07/2008, O Mundo, p. 31
Constituinte do Equador encerra trabalhos dando mais poderes ao presidente
MONTECRISTI, Equador. O fim dos trabalhos da Assembléia Constituinte do Equador foi marcado ontem por manobras políticas dos governistas que irritaram a oposição e que fortalecem o presidente Rafael Correa e seu desejo de aprovação da nova Constituição. Ainda na madrugada, os constituintes destituíram o magistrado opositor do Supremo Tribunal Eleitoral Andrés León e nomearam em seu lugar um aliado do governo. A estratégia, segundo analistas, coloca o tribunal - responsável pela organização do referendo de 28 de setembro que deve ou não aprovar a nova Carta - nas mãos de Correa.
Num outro duro golpe nos adversários políticos, Correa conseguiu com que a Assembléia aprovasse também a criação de uma comissão parlamentar, formada em ampla maioria por governistas, para legislar no lugar da Assembléia até a formação de um novo Congresso por eleições, caso a Constituição seja aprovada, ou a restauração do antigo se nova Carta for rejeitada. A medida dá ao presidente poderes quase que absolutos para aprovar leis pelo menos até o fim de setembro.
- O que estão fazendo é um golpe. Querem estabelecer o absolutismo em nosso país. Essa Assembléia, eleita pelo povo para produzir uma nova Constituição que seja mais justa para todos, se converteu em uma tragédia. É vergonhoso tudo isso que está acontecendo aqui - disse o constituinte opositor León Roldós.
País ganha mais dois idiomas oficiais
Em suas últimas horas de trabalho, antes da aprovação final do texto que será submetido a referendo, a Assembléia Constituinte também destituiu magistrados opositores da Corte Suprema de Justiça, aprovou a inclusão do quéchua e do shuar como línguas oficiais, junto com o espanhol, e declarou hoje feriado nacional, quando devem acontecer diversos eventos políticos em defesa do "sim" à nova Constituição.
A nova Carta do Equador, se aprovada, aumentará os poderes do presidente, permitirá sua reeleição e provocará alterações importantes na economia, que terá um papel ainda maior do Estado. O país voltará a ter uma moeda no lugar do dólar e setores estratégicos como mineração, petróleo e telecomunicações priorizarão investimentos do governo no lugar de empresas estrangeiras.
Correa chegou a ameaçar renunciar à Presidência caso não consiga implantar o novo texto e deve percorrer o país em campanha pelo "sim", atitude que está sendo alvo de críticas de seus opositores.