Título: Vida longa com Aids
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Fonte: O Globo, 25/07/2008, Ciência, p. 33

Pessoas infectadas pelo HIV aos 20 anos podem chegar aos 70.

Os coquetéis de anti-retrovirais usados no tratamento de pessoas com Aids desde meados dos anos 90 levaram a um substancial aumento da expectativa de vida de pacientes no Ocidente, de acordo com cientistas britânicos e americanos. Um paciente diagnosticado aos 20 anos poderá viver até quase 70 anos, diz a análise de 14 estudos, reunindo dados de 33 mil pessoas, publicada hoje na revista médica britânica ¿The Lancet¿. Aos 35 anos, a idade média do diagnóstico de HIV na Europa, a expectativa de vida ultrapassa os 72 anos.

Existe perigo de o vírus reagir

De maneira geral, a expectativa de vida dos pacientes aumentou em média 13 anos entre 1996 e 2005. Ela continua a crescer à medida que os tratamentos são cada vez mais refinados. O coordenador da análise, Jonathan Sterne, do Grupo de Colaboração de Terapia Anti-retroviral da Universidade de Bristol, afirmou:

¿ Houve uma revolução no tratamento do HIV desde 1996. De uma doença fatal, ela se transformou rapidamente num problema com taxas de letalidade mais similares às da diabetes. Conseguimos impedir a replicação do vírus e aprimorar a recuperação do sistema imunológico. Também há um leque maior de remédios e menos efeitos colaterais. Outra conquista é que esses medicamentos se tornaram mais fáceis de tomar.

Sterne destacou, porém, que médicos e cientistas ainda não sabem que efeitos a longo prazo os anti-retrovirais poderão ter:

¿ Muita gente teme que após os grandes benefícios vistos até agora, o vírus HIV possa voltar a se multiplicar e afetar o sistema imunológico dos pacientes. Há também uma preocupação grande com o aparecimento da resistência.

No entanto, a despeito dos ganhos recentes, a expectativa de vida das pessoas com Aids ainda é menor do que a dos indivíduos não infectados pelo vírus HIV. A diferença é superior a dez anos.

Sterne destacou que hoje o diagnóstico precoce é um fator crucial para o sucesso do tratamento:

¿ Uma das principais razões para as pessoas morrerem em menos tempo é o fato de serem diagnosticadas tardiamente, quando o vírus já teve tempo de se disseminar. Acreditamos que pessoas com mais de 55 anos deveriam ter acesso regularmente a testes de Aids. No passado havia um grande preconceito em relação aos testes de HIV e sugerir que alguém sem sintomas fizesse um exame era considerado uma tremenda invasão de privacidade. Agora, podemos pensar em políticas nacionais de testes, a exemplo do que se faz com a diabetes. Trata-se de um simples teste de saliva ou sangue. Não estamos falando de nada complicado como as mamografias, para o diagnóstico precoce do câncer de mama.

Um estudo publicado na revista médica americana ¿New England Journal of Medicine¿ já mostrou que exames de Aids regulares oferecem uma boa relação custo-benefício em países desenvolvidos. Porém, são impraticáveis em países pobres, especialmente na África, onde estão dois terços dos 33 milhões de infectados pelo HIV em todo o mundo.

Um quarto das mortes era evitável

Os autores da análise publicada pela ¿Lancet¿ estimam que cerca de um quarto de todas as mortes causadas pela Aids no ano passado poderiam ter sido evitadas, se as pessoas tivessem sido diagnosticadas pouco depois da infecção e o tratamento tivesse começado logo.

Com o ¿Independent¿