Título: Entidades condenam ameaças a jornalistas
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 28/07/2008, O País, p. 4

Expulsão de repórteres por parte do tráfico mostraria poder de estado paralelo na cidade

Simone Gondim *

Um atentado contra a liberdade de imprensa. Foi assim que representantes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) reagiram diante do episódio ocorrido ontem de manhã na Vila Cruzeiro, quando repórteres e fotógrafos do GLOBO, do "Jornal do Brasil" e de "O Dia" foram rendidos por traficantes enquanto acompanhavam o corpo-a-corpo do candidato a prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB). A preocupação com o poder de um estado paralelo, comandado por bandidos, era o que falava mais alto.

- Essa notícia mostra o poder assumido por grupos criminosos e as normas que eles pretendem impor ao restante da sociedade. Além de desagradável, é uma restrição grave à liberdade de expressão. É a censura agravada por um alto teor de violência física - afirmou Maurício Azêdo, presidente da ABI.

Sindicato cobrará providências do Estado

Para Suzana Tavares Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, não basta o discurso das autoridades, é preciso ter governo e Justiça atuantes no cumprimento da lei. A entidade vai divulgar hoje uma nota cobrando providências ao governo do Estado.

- Seis anos depois da morte de Tim Lopes, vemos jornalistas serem intimidados novamente na Vila Cruzeiro. Vivemos em um estado de guerra, no qual a falência da política de segurança torna a sociedade cada vez mais refém de um poder paralelo. Antes, a preocupação era proteger os profissionais da imprensa que cobriam a editoria de polícia. Atualmente, o risco existe para todas as áreas - a presidente do sindicato

"É inaceitável que existam lugares dominados"

Segundo Plínio Bortolotti, diretor da Abraji responsável por questões ligadas à liberdade de expressão, o caso reflete o descontrole total da situação da segurança no Rio.

- É preciso cobrar dos candidatos a cargos majoritários na cidade uma postura concreta contra episódios desse tipo, bem como soluções efetivas para o problema. É inaceitável que existam lugares dominados pelo tráfico de drogas ou por milícias, onde se perde a liberdade de expressão - disse Plínio.

(*) Do Extra