Título: Athos Bulcão, artista plástico, aos 90 anos
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Fonte: O Globo, 01/08/2008, Rio, p. 25

O artista plástico Athos Bulcão era discípulo e ex-aluno de Cândido Portinari e se notabilizou pela combinação de arte e arquitetura. Seus enormes painéis de azulejo estão espalhados por vários cantos da capital federal, em palácios, igrejas, escolas, hospitais e outros locais públicos, como o Congresso Nacional.

Uma das obras favoritas de Bulcão em Brasília é o trabalho de relevo na fachada do Teatro Nacional. Oscar Niemeyer encomendou a ele algo que fosse ao mesmo tempo leve e pesado. O artista pensou numa forma de projetar sombra e criou blocos, com vários tamanhos, que, com o efeito do sol, geram belas imagens nas laterais do teatro.

A secretária-executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Lopes Cabral, conta que o artista nunca gostou que sua obra ficasse restrita ao interior dos prédios.

¿ Para ele, a arte tinha que estar ao alcance do povo ¿ diz Valéria.

Com Mal de Parkinson há dez anos, Bulcão parou de trabalhar no ano passado, quando perdeu força nas mãos, o que o impediu de desenhar. A obra de Bulcão extrapolou os limites de Brasília, onde comemoraria, em 18 agosto, 50 anos de presença na capital. Seus trabalhos podem ser vistos em outras cidades brasileiras, como Rio, São Paulo, São Luís, Natal, Fortaleza e também no exterior, em Paris e Buenos Aires. Bulcão nasceu no Rio e era o filho temporão de uma família de quatro irmãos. Nunca casou ou teve filhos. Dedicou-se inteiramente à arte.

Bulcão não foi apenas aluno de Portinari. Ele foi hóspede de seu mestre, em Belo Horizonte, em meados da década de 40, durante sete meses. Foi quando Portinari criou o famoso painel da Pampulha. Ele dizia que esteve lá apenas para pintar azulejo.

Ex-presidente da fundação que leva o nome do artista, Cláudia Pereira, emocionada, lembra que Bulcão era um professor de arquitetura que dividia seu ateliê com os alunos e que não gostava de assinar as próprias obras:

¿ Bulcão achava que a assinatura atrapalha a estética da obra. A tornava, de certo modo, feia. Era preciso pedir que ele ao menos assinasse atrás para facilitar a catalogação do trabalho mais tarde.

Athos Bulcão morreu ontem, aos 90 anos, no Hospital Sarah Kubitscheck, em Brasília. Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Athos ¿será eternamente lembrado como um artista do cotidiano¿. Bulcão será enterrado hoje, às 16h, no cemitério Campo da Esperança, em Brasília.