Título: Banco Central: juros subirão mais intensamente
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 01/08/2008, Economia, p. 29

Ata do Copom revela preocupação com inflação e cita ação vigorosa. Mercado prevê nova alta de 0,75 ponto na Selic

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A recente piora na expectativa de inflação, sobretudo para 2009, com a contínua pressão na demanda interna, vai levar o Banco Central (BC) a manter uma política monetária austera, ou seja, de juros altos. A indicação foi dada pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que, ao menos, corroborou a percepção do mercado de que o ciclo de altas será mais curto, mas mais intenso.

- O BC resistiu ao máximo para aumentar mais os juros. Mas não deu, porque as expectativas pioraram muito, afetando 2009 - disse o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, que aposta numa Selic a 15% ao ano no início de 2009. Antes, avaliava que esse patamar ocorreria apenas no segundo trimestre.

A pesquisa Focus do BC, que ouve 80 instituições financeiras no país, mostra que o mercado calcula IPCA de 5% em 2009, distanciando-se do centro da meta do governo, de 4,5%, com margem de dois pontos para mais ou para menos. Sobre 2008, o cenário é ainda pior: inflação de 6,58%, estourando o teto do objetivo.

Aperto monetário afetará crescimento em 2009

Segundo a ata, "a estratégia adotada pelo Copom visa a trazer a inflação de volta à meta central de 4,5%, estabelecida pelo CMN, tempestivamente, isto é, já em 2009". A demanda interna mais aquecida, sem contrapartida da oferta, é a principal preocupação da autoridade monetária. Na semana passada, o Copom pegou de surpresa boa parte do mercado ao elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, para 13% anuais, ritmo que o mercado espera ser repetido na próxima reunião, em setembro. Nas duas reuniões anteriores, os ajustes haviam sido de 0,5 ponto cada.

- A mensagem do BC é que ele quer convergir a inflação para 4,5% em 2009, e que vai continuar monitorando a evolução da demanda interna - disse o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, que também crê em altas fortes da Selic, até chegar a 15,25%, num espaço de tempo mais curto. - O BC não fechou nenhuma porta. Se o cenário piorar, pode continuar aumentando ainda mais os juros.

Pela ata, o BC deixou claro que agirá vigorosamente no combate à inflação, repetindo a expressão usada pelo presidente Henrique Meirelles uma semana antes da reunião do Copom em audiência no Senado.

CNI: atividade industrial continua aquecida

A principal conseqüência do aperto monetário se dá na atividade econômica, uma vez que juros mais altos desestimulam o consumo ao encarecer o crédito. Analistas prevêem uma alta do PIB (conjunto de bens e serviços do país) de 4,8% em 2008, recuando para até 3,5% em 2009.

Já a atividade industrial continuou aquecida no segundo trimestre, disse ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pesquisa com 1.488 empresas revelou que o indicador de produção chegou a 56,5 pontos - o índice varia de 0 a 100, e valores acima de 50 indicam aumento da produção. No primeiro trimestre, o índice estava em 52,2 e, no segundo trimestre de 2007, em 56,2. Mas uma média maior de estoques indica uma desaceleração futura.

COLABOROU Henrique Gomes Batista