Título: Pelo 2º mês, inflação supera todas as aplicações
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 01/08/2008, Economia, p. 29
Renda fixa lidera ganhos, Bolsa cai 8,47% e fundos de Vale e Petrobras perdem mais de 24%
Felipe Frisch
A incerteza com relação ao crescimento mundial neste e no próximo ano e a volta das más notícias do mercado imobiliário americano fizeram com que a inflação, pelo segundo mês consecutivo, superasse as principais aplicações financeiras em julho e no acumulado deste ano. Enquanto a inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou alta de 1,76% em julho, o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, acumulou queda de 8,47% no mês.
Também foi o segundo mês seguido de perdas para a Bolsa. No fim de junho, a Bolsa registrava 65.017 pontos. Desde o pico do índice, em 20 de maio, aos 73.516 pontos, o índice acumula perda de 19,06%.
Entre as aplicações financeiras, os fundos de renda fixa - que compram títulos com taxas de juros prefixadas - foram os que tiveram o melhor desempenho, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) até o dia 25 de julho: acumularam valorização média de 1,02%. No ano sobem 6,91%.
Já os fundos DI - mais conservadores, pois compram papéis que acompanham a taxa básica de juros definida pelo Banco Central, a Selic, hoje em 13% ao ano - tiveram ganho de 0,88% no mês encerrado ontem, acumulando ganho de 6,26% em 2008. Na terceira colocação ficaria a poupança, com rentabilidade de 0,69% no mês e de 4,21% no ano. As piores aplicações também estiveram ligadas ao mercado de ações. Os fundos de investimento de quem aplicou parte do fundo de garantia (FGTS) em ações da Vale tiveram perda de 24,13% no mês, e os de papéis da Petrobras, 26,07%.
Para o administrador de investimentos Fabio Colombo, embora os fundos atrelados à taxa de juros (renda fixa e DI) estejam perdendo da inflação, ainda devem continuar sendo os de melhor desempenho nos próximos meses.
Influenciada por Copom, Bolsa recua 0,82%
No último dia do mês, a Bovespa teve um pregão de intensa volatilidade, e o seu principal índice fechou em queda de 0,82%, para 59.505 pontos, puxada pela divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que decide o rumo da taxa básica de juros. O documento foi considerado mais conservador do que o esperado, segundo analistas, o que aumenta o receio de uma elevação de juros de mais 0,75 ponto percentual na próxima reunião, em 9 e 10 de setembro, como aconteceu na última, na semana passada.
- O tom da ata foi um pouco mais duro do que o mercado esperava e as pessoas começam a se dividir de novo entre os que acreditam numa alta de 0,50 ponto e os que acreditam em 0,75. Ainda é cedo para falar em alta de 0,75. Vamos esperar os números de inflação, que estão mostrando uma pequena melhora - diz Rafael Moysés, gestor da Umuarama.
A divulgação do PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) dos Estados Unidos do segundo trimestre, com crescimento de 1,9%, considerado fraco, também ajudou a puxar as bolsas para baixo, ele reconhece. Em Nova York, o Dow Jones caiu 1,78% e o eletrônico Nasdaq, 0,18%.
Com a conseqüente expectativa de menor crescimento dos EUA e mundial, as commodities (matérias-primas, como o petróleo) voltaram a cair. Em Nova York, o barril do produto caiu 2,20%, para US$123,98. No Brasil, a queda foi ainda mais estimulada pelo fato de o Ibovespa ter peso de 43,38% de ações de empresas ligadas a matérias-primas, principalmente Vale e Petrobras. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal caíram 1,64% e as da mineradora, 1,82%.