Título: Novos sheiks descendem de antigos gestores dos milhões dos royalties
Autor: Otavio, Chico; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 03/08/2008, O País, p. 4

Prefeitos tentam reeleição e rompem com primeira geração de administradores

Chico Otavio e Maiá Menezes

Uma análise genealógica da nova geração dos royalties deixa claro: mesmo com um discurso de rompimento com a primeira leva de gestores dos milionários recursos do petróleo, os prefeitos que tentam continuar nos cargos nasceram da costela dos antecessores. Em alguns casos, literalmente. O prefeito de Quissamã, Armando Cunha Carneiro da Silva (PSC), que foi lançado na política pelo primo, Octávio Carneiro (PP), enfrenta agora o dissabor de brigar com o seu parente pelo cargo. Ambos se consideram traídos.

- Tínhamos um acordo. Se eu estivesse bem, ele me apoiaria. Mas Otávio não cumpriu. Já foi prefeito três vezes e quer ser de novo. É muita vaidade - ataca Armando.

- A prefeitura virou uma casa comercial. Queria apoiá-lo, mas depois desta sujeira só me restou ser candidato. Devo desculpas à população por tê-lo lançado - devolve Octávio.

O motivo alegado para a separação entre os ex-aliados é sempre o mesmo: o desentendimento sobre quem seria o candidato a prefeito. Ninguém se entende na disputa de orçamentos milionários. A prefeitura de Quissamã, por exemplo, recebeu em royalties, só entre janeiro e julho deste ano, R$55,7 milhões.

Como Octávio teve as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2001, o prefeito Armando não esperou a manifestação do Ministério Público e pediu a impugnação do primo-inimigo.

- Ele me chamou de bandido - queixa-se Octávio.

Em Cabo Frio, a mágoa aflora nos dois principais candidatos quando o assunto é a separação.

- Comparo ao fim de um casamento. Ficaram traumas. Houve aqui uma separação de dois políticos que caminhavam juntos. Fui traído. Havia um compromisso assumido por ele de que eu seria o candidato à reeleição. Aos 45 do segundo tempo, ele decidiu ser o candidato. A cadeira não pode ser ocupada por dois. Nós temos uma forma diferente de governar. Longe do coronelismo do passado - diz Marcos Mendes, prefeito da cidade da Região dos Lagos.

A versão do deputado estadual Alair Corrêa (PSDB) é diferente. Ele diz que o prefeito teria assumido o compromisso de ficar apenas quatro anos no cargo e de, depois, apoiá-lo. Como ex-aliado, o deputado se sente à vontade para apontar o que considera o principal defeito do prefeito.

- Em abril, ele voltou atrás e lançou o nome dele. Quem arrecada essa fortuna tem como mudar a história de uma cidade inteira. Mas ele não sabe administrar a riqueza, acorda tarde, vive nas madrugadas - devolve Alair Corrêa.

O racha entre o deputado estadual Alcebíades Sabino (PSC) e o prefeito Carlos Augusto Balthazar (PMDB) também foi fruto do impasse em torno da sucessão.

- Eu o apoiei em 2006, para deputado estadual. Quando ele se lançou candidato a prefeito, há quatro meses, nós rompemos. Mas mantemos uma relação cordial - afirma Carlos Balthazar, antes de criticar a forma como a chamada primeira geração administrou os recursos que jorravam nos cofres municipais:

- Havia muita vaidade no boom desses recursos.

Sabino, ex-aliado, afirma que a preocupação com a imagem está na lista de prioridades da atual administração:

- Só com publicidade, eles gastaram R$8 milhões - diz o deputado, que defende uma campanha de propostas, sem críticas diretas ao adversário.

Sobrinho, afilhado e sucessor do ex-prefeito Silvio Lopes, Riverton Mousse (PMDB) declarou independência diante do mesmo impasse. Eleito para a Câmara dos Deputados com o apoio de Mousse, Silvio Lopes decidiu lutar para retomar a prefeitura.

- No meu governo, há um grande número de pessoas ligadas a ele. Mas eu optei por aceitar o convite do PMDB. O fato é que sempre brigamos para ter um representação na Câmara. Agora, precisamos ainda mais. E ele quer largar o mandato para voltar para cá - diz Riverton.

- A questão é que a população não vê onde estão sendo aplicados os recursos dos royalties. Ele está fazendo um governo para beneficiar aliados - critica o tio e adversário.