Título: Giro pelo país em campanha
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2009, Política, p. 8

O presidente pretende diminuir idas ao exterior e dedicar-se a percorrer o Brasil divulgando o PAC, como forma de compensar a redução de aparições de Dilma Rousseff. Oposição diz que o programa segue lento

Lula com o secretário do Conselho de Cooperação do Golfo, Abdul Al Attiya: rara viagem internacional A partir de junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende reduzir o ritmo de viagens internacionais e se dedicar a percorrer o país para divulgar o Programa de Aceleração do Crescimento. Lula quer reforçar a imagem do PAC. Mostrar que, ao contrário do que diz a oposição, o ¿filho administrativo¿ da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, avança em velocidade crescente. Com a iniciativa, o presidente espera dar fôlego à pré-campanha presidencial de Dilma no segundo semestre deste ano, quando a ¿gerente da máquina¿ reduzirá a quantidade de aparições em público devido ao tratamento de câncer a que se submete.

O giro pelo país também é uma oportunidade para Lula conquistar ainda mais espaço na mídia regional, o que pode contribuir para manter o alto nível de avaliação popular do governo e do próprio presidente. A promessa de rodar os estados foi feita na quarta-feira passada, no Centro Cultural Banco do Brasil, durante reunião com o chamado conselho político, grupo formado por líderes dos partidos governistas. Na ocasião, Lula pediu aos parlamentares empenho no esforço de divulgação do PAC. Para estimulá-los, apresentou uma mapa feito pela Embrapa, com imagens captadas por satélite, apinhado de obras do programa. Lula avisou que a viagem internacional de nove dias que começou ontem pela Arábia Saudita será uma das poucas este ano.

A ideia do Planalto é produzir mapas parecidos sobre cada unidade da Federação, os quais serão usados por deputados e senadores aliados no embate com a oposição. ¿Não sei se sou otimista, mas estou achando o andamento do PAC muito bom¿, afirmou o presidente, conforme relato de um dos participantes da reunião. De janeiro a abril deste ano, o programa pagou R$ 2,58 bilhões, dos quais R$ 2,2 bilhões sob a rubrica ¿restos a pagar¿ e R$ 322 milhões em recursos constantes do Orçamento da União de 2009. O valor é 17% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Além disso, supera 2,5 vezes a quantia desembolsada no primeiro quadrimestre de 2007, quando o PAC foi lançado (leia quadro). Os dados foram colhidos pela Associação Contas Abertas no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi).

Marcha lenta Pelo menos no discurso, a oposição não tem dúvida: Lula é um otimista, e o PAC não saiu do papel. Para justificar tal análise, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), usa um levantamento realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), um dos 37 ministérios do governo. Divulgado na última quinta-feira, o documento revela que, de 123 obras fiscalizadas pela CGU, 84 sequer começaram. ¿O PAC é considerado o carro-chefe dos investimentos da União em infraestrutura. Como explicar que o programa não tenha decolado senão pelo péssimo gerenciamento?¿, criticou Guerra.

Líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP) reforça o coro destinado a minar a suposta capacidade gerencial de Dilma, qualidade usada por Lula para credenciá-la à Presidência da República. ¿O governo da gastança está perdendo o rumo. Segundo a Bíblia, Deus descansou no sétimo dia. O presidente Lula, no sétimo ano de seu governo, parece seguir o mesmo caminho¿, ironizou Aníbal. Os tucanos também lançam mão de números do Siafi. Destacam, por exemplo, que só 12,18% do orçamento do PAC previsto para este ano, de R$ 20,6 bilhões, foram pagos de janeiro a abril. ¿O presidente viaja, faz discurso e inaugura obra que não está feita¿, reforçou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Para Dilma, a oposição acusa o golpe ao se mostrar incomodada com o PAC, que envolve quase 2,4 mil ações. As críticas, alega a ministra, revelariam o sucesso do programa. ¿Eles diziam que a gente não ia fazer a Ferrovia Norte-Sul nem que a vaca tussa. Estamos fazendo a Norte-Sul. Tem obras que às vezes ficam paralisadas porque não saiu uma licença ambiental? Tem¿, disse a ¿mãe do PAC¿ ao Correio. ¿Mas temos tido um grau muito grande de sucesso. A grande maioria sai e prossegue¿, acrescentou. De acordo com o balanço oficial de dois anos de PAC, 270 ações já foram concluídas. Juntas, representam um investimento de R$ 48,3 bilhões.

Negociação de acordos O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem a Riad, na Arábia Saudita, onde se reuniu com o rei Abdullah e o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo, Abdul Rahman al Attiya. Um amplo acordo de livre comércio está sendo negociado entre os países membros do conselho e o Mercosul. Em artigo publicado no jornal local, Saudi Gazette, Lula afirmou ter a honra de ser o primeiro presidente brasileiro a fazer uma visita oficial ao país. ¿O Brasil se orgulha de ter raízes na rica herança cultural da civilização árabe ¿ ondas sucessivas de imigrantes do Oriente Médio chegaram ao Brasil em busca de novos horizontes e uma vida melhor¿, disse o presidente. Na sexta-feira, antes de viajar, Lula destacou a importância da viagem à Arábia Saudita, pelo que representa no mundo árabe e no mundo do petróleo. Hoje o presidente segue viagem para a China.