Título: No interior, uma vida bem melhor
Autor: Melo, Liana; Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 03/08/2008, Economia, p. 33

RETRATOS DO BRASIL

Das 100 cidades mais desenvolvidas no país, só há 2 capitais, mostra índice da Firjan. E 87 estão em SP

Liana Melo, Ludmilla de Lima e Paulo Marqueiro

Odesenvolvimento humano, econômico e social do país caminha em direção às cidades do interior. São os municípios com menos de 300 mil habitantes que estão liderando as estatísticas de geração de emprego e renda, saúde e educação. De uma lista de 5.559, os cem primeiros são quase todos do interior. As exceções são Curitiba e Vitória, que ocupam a 72ª e a 82ª posições, respectivamente.

Indaiatuba, na região de Campinas, em São Paulo, é considerado o município que oferece os melhores indicadores de desenvolvimento humano. O extremo oposto é a baiana Santa Brígida, que ficou na lanterna. No grupo dos cem, 87 são de São Paulo. E há apenas duas cidades fluminenses: Macaé e Niterói.

Esse é o retrato feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) na primeira pesquisa Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). O estado de São Paulo se destacou, sobretudo, pelos indicadores de educação, que acabaram puxando para cima os resultados de emprego e saúde. A pesquisa da Firjan comparou dados de 2005 com os de 2000. Em 2000, Vitória e Brasília eram as capitais entre os cem melhores colocados. Ou seja, 98 cidades do interior também dominavam o ranking.

- Quanto maior o nível de educação, maior o de saúde - avalia Antonio Ivo de Carvalho, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmando que os serviços de saúde estão melhorando nos municípios devido à descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ainda no grupo dos cem melhores, o Nordeste ficou fora. Mas, dos 500 piores municípios em desenvolvimento humano, 421 ficam na região. Na lista dos 500 melhores, Sul e Sudeste lideram.

- Há indicativos nessa pesquisa de que o desenvolvimento econômico tem tido um movimento de interiorização em direção a cidades pequenas e médias - avalia Sérgio Besserman, presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), que, como ex-presidente do IBGE, está convencido de que uma confirmação inquestionável dessa conclusão da Firjan apenas poderá ser possível em 2010, na divulgação do próximo Censo.

Municípios pobres têm salto em renda

Embora a liderança da pesquisa tenha ficado com Indaiatuba, que tem índice de 0,9368 - quanto mais perto de um, melhor -, a capital de São Paulo ocupa a 109ª posição (com 0,8499). O Rio de Janeiro está em 157º lugar, com 0,7793. É que a melhora no índice observada nas capitais, de 16,6%, foi menos intensa do que a média dos municípios brasileiros, de 19,7%.

Segundo o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), São Paulo e Rio, as duas grandes metrópoles brasileiras, vivem uma crise, o que explica, em parte, o sucesso das capitais do Paraná e Espírito Santo, que foram beneficiadas pela continuidade de políticas públicas eficientes:

- Curitiba e Vitória estão se desenvolvendo e aprendendo com os erros de São Paulo e do Rio. As duas apresentam um crescimento econômico associado a boas políticas sociais e de urbanismo. Mesmo tendo problemas típicos de capitais, as dificuldades nessas cidades são menos agudas em relação ao resto do país.

Apesar de a pesquisa indicar que o abismo entre Norte e Sul do país permanece, o IFDM detectou variações positivas nos municípios mais pobres, entre 2000 e 2005. O maior salto foi registrado em Capitão Gervásio Oliveira, no Piauí.

- A principal explicação para os saltos registrados no Nordeste vem do Bolsa Família, que é responsável pelos avanços, sobretudo em renda - explica Augusto Franco, diretor-geral da Firjan e responsável pela pesquisa.

Urani ressalta que a iniciativa privada também passou a olhar, sem distinção, o interior do país. Um atrativo é o mercado consumidor crescente entre as classes mais baixas, impulsionado pelas políticas sociais.