Título: Dirigente do Ibama que doou a sem-terra é demitido
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 28/07/2008, O País, p. 9

Ministro afasta superintendente de Rondônia, que entregou 36 motosserras e duas serrarias a movimento camponês.

BRASÍLIA. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, determinou ontem o afastamento do superintendente do Ibama de Rondônia, Oswaldo Luiz Pittaluga. Auditoria interna do Ibama, cujas conclusões foram divulgadas ontem pelo GLOBO, acusa Pittaluga de doar 36 motosserras e duas serrarias para o Movimento Camponês Corumbiara (MCC), entre outras irregularidades. Ligado ao PT, Pittaluga estava no cargo desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A demissão de Pittaluga foi acertada entre Minc e o presidente do Ibama, Roberto Messias.

- Dizem que o movimento é parceiro, aliado. Tipo assim: os latifundiários não podem desmatar, mas nossa turma pode. Isso é totalmente contraditório com minha gestão - afirmou Minc.

O ministro disse que já sabia do resultado da auditoria, mas decidiu exonerar Pittaluga do cargo depois da divulgação da reportagem sobre o assunto na edição de ontem do GLOBO. Para Minc, fora do posto de comando, Pittaluga terá todas as condições para se explicar até o final da sindicância interna.

Minc diz ter pedido investigação há um mês

O superintendente será substituído por um técnico de carreira do próprio Ibama. O nome deve ser anunciado ainda hoje por Roberto Messias. Para Minc, a política de proteção ambiental está em situação delicada e, por isso, não seria o caso de esperar a conclusão da sindicância para deliberar sobre a permanência de Pittaluga no cargo.

- Tivemos que tomar a decisão logo. É meio complicado ficar assim. Estamos em meio a uma guerra contra o desmatamento - afirmou.

O ministro argumenta ainda que coube a ele, há um mês, pedir uma investigação interna sobre supostas irregularidades cometidas por Pittaluga. O superintendente foi acusado por fiscais do próprio Ibama de atrapalhar algumas ações da Operação Arco de Fogo, lançada no início do ano como a mais abrangente iniciativa do governo federal para conter o crescente desmatamento na Amazônia.

As investigações internas confirmaram as suspeitas e descobriram indícios de desvios administrativos na gestão de Pittaluga.

Parlamentares do PT de Rondônia, responsáveis pela indicação de Pittaluga, vinham pressionando o presidente do Ibama para mantê-lo no cargo. Carlos Minc disse que tem bom relacionamento com os parlamentares, mas não poderia contemporizar com as irregularidades imputadas a Pittaluga. O superintendente é acusado ainda de doar toras de madeira avaliadas em R$216,7 mil para a Polícia Civil de Rondônia. Pelas normas internas, doações acima de R$50 mil só podem ser feitas pelo presidente do Ibama.