Título: Rio sobe, mas não fica entre as cem melhores
Autor: Lima, Ludmilla de; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 03/08/2008, Economia, p. 36

RETRATOS DO BRASIL: Capital perde para Curitiba,Vitória, São Paulo, Florianópolis, Brasília e Campo Grande

Macaé e Niterói, movidas pelo petróleo, são as únicas cidades do estado no topo da lista de desenvolvimento

Ludmilla de Lima, Maiá Menezes e Paulo Marqueiro

MACAÉ e RIO. A cidade do Rio subiu 73 posições no ranking do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) entre 2000 e 2005, saltando do 230º lugar para o 157º, mas, com índice de 0,8174, ainda está fora da lista das cem mais. Apenas Macaé, em 34º, e Niterói, em 97º, fazem parte do grupo. Já no ranking das 27 capitais, o Rio ocupa o sétimo lugar (atrás de Curitiba, Vitória, São Paulo, Florianópolis, Brasília e Campo Grande), tendo recuado duas posições em relação a 2000, quando detinha a quinta colocação.

Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ), relativiza a posição da capital fluminense:

- Por trabalhar com os dados apenas sobre o mercado de trabalho formal, inevitavelmente o Rio aparece nessa posição. Mas será que, globalmente, a qualidade do Rio de Janeiro é pior que a de Macaé?

O prefeito Cesar Maia (DEM) ironizou o fato de Niterói estar à frente do Rio. Ele alega que números podem distorcer fatos:

- Niterói é uma cidade que concentra nos bairros de classe média pessoas que trabalham no Rio, e a renda é computada em Niterói, embora seja local de moradia. Números queimam na mão de não experts.

Já o prefeito de Niterói, Godofredo Pinto (PT), aponta a continuidade das políticas públicas como uma das responsáveis pelo destaque da cidade:

- Em seis anos, fizemos três planejamentos estratégicos para a minha gestão e um para os próximos 15 anos.

Outra alavanca da cidade são os royalties - R$50 milhões por ano - e a indústria naval, que saiu há dez anos de um processo de decadência.

- O mercado é muito promissor - diz Domingos D"Arco, presidente do estaleiro Mauá, que hoje tem cinco mil empregados e está contratando mais 1.500 para atender as encomendas da indústria do petróleo.

Niterói consegue bom desempenho também devido aos indicadores de saúde, apoiados principalmente no Programa Médico de Família.

No eldorado fluminense, riqueza e bolsões de miséria

Em Macaé, prédios em construção convivem com valas de esgoto. E programas municipais de incremento do ensino médio e superior disputam com o tráfico a atenção do jovem. A cidade foi apontada pela Organização dos Estados Ibero-americanos como a décima mais violenta do país. Com 180 mil moradores, três vezes mais do que há três anos, Macaé - alçada a novo eldorado desde que começaram a jorrar recursos dos royalties do petróleo, em 1996 - é um pólo de atração de moradores de todo o país.

- O crescimento é assustador. Houve um aumento da favelização. No início do governo, derrubei 800 casas em áreas de preservação - diz o prefeito Riverton Musse (PMDB).

Um dos atributos que mantêm a atração de Fátima Barreto Fernandes, de 49 anos, pela cidade que a conquistou há dois anos são os cursos profissionalizantes. Moradora de Campo Grande (MS) até 2006, ela decidiu se mudar para Macaé com o marido, o borracheiro Arlindo Pereira Fernandes, depois de visitas freqüentes a uma amiga que morava na cidade:

- Os serviços aqui são melhores. E os cursos também.

Entre os 92 municípios do Rio, o pior desempenho ficou com Trajano de Morais (0,5721), cujo resultado foi afetado pelo indicador emprego e renda.

Na comparação entre as unidades da federação, o Estado do Rio fica em quarto lugar, com índice de 0,7793, atrás de São Paulo (0,8499), Paraná (0,8035) e Santa Catarina (0,7847).