Título: Retorno à discussão sobre origem da vida
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2009, Brasil, p. 12

É inevitável a discussão sobre a existência de vida humana e sua proteção quando o assunto são os embriões congelados nas clínicas de fertilização in vitro, principalmente se eles não se enquadram nos critérios para serem destinados à pesquisa. Para Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, a questão religiosa tem de ser deixada de fora. ¿A ciência não considera aqueles embriões como vida em potencial. Entendemos que, após os 14 dias, quando há atividade cerebral, existe vida¿, diz.

Na avaliação da antropóloga Debora Diniz, presidente do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), as clínicas deveriam ser livres para fazer o que quiserem. ¿Não há necessidade de uma legislação para resolver o que fazer com o embrião, descongelar, doar, descartar. A Lei de Biossegurança já proíbe o que tem de ser proibido, que são experimentos de engenharia genética, como misturar embrião humano com animais, por exemplo¿, defende.

A médica Ieda Verreschi, professora da Universidade Federal de São Paulo, que presta assessoria técnica para a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, discorda. ¿Tecnicamente falando, sem nenhuma influência de religião, o programa genético que está naquela célula é de uma vida humana. Podemos até dar um valor menor para ela, por não ter sido implantada em um útero, mas é uma célula que tem vida e só não se transformará em uma pessoa¿, afirma a professora.

Uma saída para o dilema ético é a vitrificação (técnica mais moderna de congelamento) de óvulos, já disponível em muitas clínicas de reprodução do país, mas com resultados menos satisfatórios. ¿O óvulo é uma célula muito grande para trabalhar. A melhor opção ainda está no embrião congelado¿, afirma Amaral, que representa as clínicas. Alheio à discussão ética, o pesquisador Steves Rehen, que conseguiu produzir a primeira linhagem de célula-tronco embrionária brasileira, afirma que o corte de data na Lei de Biossegurança atrapalha as pesquisas. ¿É um fator complicante da legislação, pois quanto mais embriões tivermos, mais diversidade de linhagens teremos, o que enriqueceria os estudos¿, ressalta. (RM)