Título: Etanol é ponto de divergência entre Brasil e Europa
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/07/2008, Economia, p. 19

Usineiros pressionam governo brasileiro a não fazer concessões.

GENEBRA. Nas negociações da Rodada de Doha da OMC resta uma questão essencial para o Brasil: o etanol. Os europeus querem transformar o combustível em "produto sensível", ou seja, sujeito à proteção. Ontem, Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), incitava os negociadores brasileiros a não cederem à pressão. No fim da noite, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que "as discussões sobre etanol estão evoluindo, sobretudo com a União Européia", mas não revelou detalhes.

Os europeus já propuseram ao Brasil uma cota que permitiria ao país exportar para os países do bloco 1,4 milhão de toneladas com tarifas inferiores a 10%. Jank diz que, se o Brasil tiver que aceitar uma cota, terá de ser maior que esta, pois o país já exporta hoje mais de um milhão de toneladas.

O grande problema da negociação do etanol na rodada, segundo ele, será com os Estados Unidos, que aplicam uma tarifa secundária às importações do etanol brasileiro, de US$0,14 por litro. Os americanos se recusam a negociar na OMC reduções para esta taxa. Se não houver acordo, Jank já anunciou que a indústria de cana-de-açúcar vai entrar com uma disputa na OMC contra o país.

Outro ponto que ameaça um acordo na rodada é a controvérsia sobre as exportações de bananas latino-americanas e africanas para a Europa. Os países de África, Caribe e Pacífico (ACP) - que têm acordos especiais que garantem venda com tarifa zero para a Europa - não querem que os europeus abram mais seu mercado para outros produtores fora do grupo. (Deborah Berlinck, enviada especial)