Título: Incerteza e divisão entre emergentes marcam negociações finais na OMC
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/07/2008, Economia, p. 19

China se nega a abrir mercado a açúcar, produto de interesse para o Brasil.

GENEBRA. As negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) entram hoje na reta final em meio a um clima de total incerteza. A três dias do fim previsto da reunião, os principais negociadores dizem que nunca estiveram tão perto de um acordo. Mas todos avaliam que o pacote inteiro poderá ruir se persistirem rachas em pontos fundamentais.

Ontem, a China - país crucial nesta rodada - anunciou que não quer abertura de mercado em pelo menos três produtos: açúcar, algodão e arroz.

- Este não é um mercado de interesse direto para o Brasil. Exportar açúcar brasileiro para a China tem um custo de transporte muito alto - disse um negociador brasileiro, minimizando o impacto do anúncio.

Índia e África se opõem a proposta aceita por Brasil

O Brasil tem direito a exportar 2 milhões de toneladas de açúcar por ano para a China. Ontem, o racha sobre o qual já se falava entre países em desenvolvimento ficou evidente. Vários grupos reunindo países mais pobres (africanos, caribenhos, alguns países asiáticos) divulgaram documento de três páginas questionando a proposta do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que fora aceita pelo Brasil.

- Este documento mostra que eles não têm vontade de negociar - afirmou um negociador brasileiro.

O documento é apoiado pela Índia, outro país-chave na rodada. Ontem, o ministro do comércio indiano, Kamal Nath, usou o texto dos mais pobres como exemplo de que a Índia não está isolada nas suas queixas ao pacote de Lamy.

Os cerca de cem países que endossam o documento querem mais proteção para a agricultura, exigindo salvaguardas especiais, que permitiriam aos países em desenvolvimento elevar suas tarifas no caso de surto de importação. O texto de Lamy sugere que as salvaguardas sejam acionadas quando o surto de importações ultrapassar 40% da média das importações dos últimos três anos. Mas o grupo exige 10%. A reivindicação não apenas esbarra na resistência dos países ricos, como do Brasil. O país vê nisso uma ameaça às suas exportações agrícolas aos países em desenvolvimento.

Sem mencionar Índia ou China, a representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, acusou ontem economias emergentes de estarem impedindo um acordo.

- Estávamos caminhando para um acordo. Infelizmente, alguns poucos mercados emergentes decidiram que querem rever (o documento).