Título: Sheiks agora sonham com Eike
Autor: Otávio, Chico; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 04/08/2008, O País, p. 3

Riqueza do empresário é vista como alternativa aos recursos finitos do petróleo

Um dos nomes mais citados nas campanhas eleitorais dos municípios do Texas brasileiro, a região que prospera embalada pelos royalties do petróleo, não é eleitor e nem candidato do lugar. Embora a maioria da população de Campos dos Goytacazes e de São João da Barra mal o conheça e nem sequer saiba pronunciar corretamente o seu primeiro nome ("começa com "e" ou com "a"?"), o empresário Eike Batista, responsável pelo Complexo do Açu, um megaempreendimento que prevê a construção de um porto e um mineroduto, virou tema da disputa política. Para uns, ele representa a saída para libertar a região da dependência dos royalties. Para outros, é visto com desconfiança e como uma ameaça ecológica.

- O projeto é grandioso. Esperamos atrair 30 empresas. Eike é um empresário moderno, que adquiriu um terço do município. Esse espaço pode trazer benefícios para a comunidade - diz a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PMDB).

O projeto compreende, entre outras instalações, um porto em Barra do Açu, município de São João da Barra, no Norte Fluminense, e um mineroduto a partir do interior de Minas Gerais. O investimento da MMX, empresa responsável pelo empreendimento, será de US$2,35 bilhões. Mas o candidato da oposição, Beto Dauaire (PDT), torce o nariz para as perspectivas associadas aos investimentos de Eike.

- Eles vão acabar com o principal criadouro de peixes da região.

Outros candidatos também olham para a linha do horizonte ao pensar no futuro. Na quarta-feira, ao discursar para moradores de Guarus, bairro pobre da periferia de Campos, a ex-governadora Rosinha Garotinho, candidata do PMDB a prefeita da cidade, lançou um alerta:

- Como Campos vai ficar depois que os royalties acabarem? Na rua da amargura?

Mais tarde, ela explicou que um dos pilares de seu programa de governo é execução de um consórcio firmado entre Campos e Quissamã para dragagem de um canal entre os dois municípios, obra que abrirá caminho para a construção de um estaleiro.

O prefeito de Quissamã, Armando Cunha, faz coro aos colegas na preocupação com o risco de um fim para a era de prosperidade trazida pelos royalties.

- Na minha administração, criamos as zonas especiais de negócios. Estamos dando ênfase à atração de empresas. Somos muito dependentes do petróleo.

O prefeito de Rio das Ostras, Carlos Balthazar (PMDB), também tenta imaginar uma alternativa para a dependência explícita dos royalties - hoje, responsável por mais de 60% do orçamento do município.

- No ano passado, combatendo a inadimplência, aumentamos em mais de R$1 milhão a arrecadação do município. Sabemos que os recursos dos royalties são finitos - disse o prefeito.