Título: Desvios de armamento também de quartéis da Argentina
Autor: Werneck, Antonio
Fonte: O Globo, 04/08/2008, Rio, p. 10

Polícia já apreendeu em favelas e morros cariocas grandes lotes de granadas FMK-2 e fuzis FAL com as quadrilhas

A apreensão de armas do Exército boliviano tem semelhanças com o desvio de armas que abasteceram o crime do Rio a partir dos quartéis das Forças Armadas e das polícias estaduais, nos últimos 15 anos, além dos casos de contrabando de armamento. Primeiramente, foram fuzis de assalto americanos, Rugger e AR-15. Comprados em Miami, eles seguiam para lojas no Paraguai e, de lá, para o Rio. Centenas de fuzis foram recolhidos com bandidos nos morros cariocas. Depois, foi a vez das armas da fábrica brasileira Taurus. Vendidas para lojas no Paraguai, principalmente nas cidades na fronteira com o Brasil, elas vieram parar nos morros do Rio. Nos anos 90, também via Paraguai, os policiais passaram a apreender grandes quantidades de granadas FMK-2 e fuzis FAL, desviados de quartéis da Argentina.

Relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, com base em dados da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos, revela que as metralhadoras .30 passaram a ser encontradas, a partir de 2001, com os criminosos do Rio. Naquele ano, uma metralhadora foi recolhida por policiais da 25ª DP (Engenho Novo). Em 2003, outra metralhadora foi encontrada, mas o aumento na estatística ocorreu em 2006, quando quatro armas com o mesmo calibre foram apreendidas.

A partir de 2001, os fornecedores foram os quartéis das Forças Armadas brasileiras. Em 2003, documentos confidenciais da inteligência militar revelaram que traficantes estavam desviando armas de quartéis, com a cumplicidade de militares. Entre 1950 e 2001, a Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (Dfae) da Polícia Civil identificara, entre as mais de 200 mil apreensões no Rio, cerca de 35 mil armas de guerra de uso exclusivo das polícias e das Forças Armadas. Um rastreamento comprovou que um terço (cerca de dez mil armas) saíra dos quartéis para os morros.

Foram lotes inteiros de granadas, fuzis, submetralhadoras e pistolas automáticas encontrados com traficantes. Um dos casos ocorreu em 25 de agosto de 2002: homens armados invadiram o Posto de Transmissão da Estação de Rádio da Marinha, em Caxias. A quadrilha rendeu sentinelas e fugiu levando seis fuzis FAL calibre 7,62; duas pistolas Taurus calibre 9mm; oito capacetes; oito coletes à prova de balas; e 300 projéteis para fuzil e pistola.

Uma investigação da Drae, coordenada pelo delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, levou a polícia aos homens que comandaram o roubo: o praça do Corpo de Fuzileiros Navais Carlos Eduardo Mombrine e o cabo da Marinha Sidney Antunes Pessoa. Os dois atacaram a unidade junto com oito traficantes.