Título: Gil continuará comandando a massa, mas fora do cargo
Autor: Damé, Luiza , Góis, Chico de
Fonte: O Globo, 31/07/2008, O País, p. 13

Após 40 dias de licença, ele deixa Ministério da Cultura

Luiza Damé e Chico de Góis

BRASÍLIA. Após recusar dois pedidos de demissão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atendeu ontem ao desejo do ministro da Cultura, Gilberto Gil, de deixar o cargo para se dedicar à carreira artística. Um dos poucos remanescentes da equipe de ministros do primeiro mandato, Gil será substituído interinamente pelo secretário-executivo da Cultura, Juca Ferreira, que poderá ser efetivado por Lula depois.

Gil disse que sai do ministério por questões pessoais, mas com um sentimento de perda e um ar de saudade, porque deixa "um governo importante e marcante para o Brasil". Ele reconheceu que sai com uma frustração: não ter conseguido elevar o orçamento da Cultura para, pelo menos, 1% de todo o dinheiro destinado a custeio e investimentos dos 37 ministérios.

O orçamento da Cultura, neste ano, é de R$665,9 milhões, o que representa 0,6% do total de gastos dos ministérios.

- Acho que a gente poderia ter chegado a um orçamento mais generoso no Ministério da Cultura, mas as dificuldades todas com as contas governamentais, o superávit e essas coisas fizeram com que não atingíssemos a meta de 1%, que era o desejado e trabalhado por nós. Fora isso, o trabalho foi muito interessante e positivo. Conseguimos fazer com que o ministério ganhasse um status significativo no governo e na sociedade - disse um Gil sorridente e bem-humorado.

Gil disse que a música que resumiria o seu ciclo no cargo e o governo Lula é "Refazenda".

- Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão. O governo Lula teve a capacidade de fazer o país compreender o processo da transmutação da vida. É uma música que eu cederia como jingle.

Lula: "Ele quer voltar a ser um grande artista"

Acompanhado da mulher, Flora, Gil gastou menos de uma hora para convencer Lula a deixá-lo cuidar de seus projetos artísticos - o novo disco e shows. Neste ano, além das férias de um mês, Gil tirou mais 40 dias de licença para fazer uma turnê internacional. Voltou ao Brasil no último dia 27 e, em seguida, telefonou para Lula, pedindo a audiência. Argumentou que estava vendo a proporção de 80% de dedicação ao ministério e 20% às atividades artísticas se desequilibrar.

- Aquela dose inicial em que previ trabalhar foi se desequilibrando um pouco. Eu tive de me dedicar um pouco mais (à carreira). Mas nada absurdo.

Ele disse não se incomodar com as críticas de que se dedicou mais à música do que ao ministério:

- Não me sinto responsabilizado por qualquer atitude negativa em relação a isso.

Ele já havia pedido para sair do governo no fim do primeiro mandato e também no fim de 2007, mas Lula conseguiu demovê-lo da idéia. Desta vez, antes mesmo de conversar com Gil, Lula admitiu que não teria como mantê-lo na equipe.

- Ele teve uma recaída e quer voltar a ser um grande artista. O Gilberto Gil não é imprescindível apenas para a política - disse Lula, antes de almoço no Itamaraty.

Agora, só quatro ministros estão no governo desde o início do primeiro mandato: Luiz Dulci (Secretaria Geral), Celso Amorim (Relações Exteriores), Jorge Félix (Segurança Institucional) e Dilma Rousseff (que trocou Minas e Energia pela Casa Civil).

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