Título: Que não seja preciso outro 11/9
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 31/07/2008, Economia, p. 23

Para Amorim, apenas nova crise resolveria impasse na OMC. Chanceler teme subsídios dos EUA

Deborah Berlinck

"Deus queira que não seja preciso outro 11 de Setembro". Foi assim que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, mediu as chances de a Rodada de Doha ser concluída este ano ou rapidamente: só acontecendo algo da proporção dos ataques terroristas para fazer a mais alta esfera política mundial se mover em direção a um acordo. Amorim se referia ao lançamento da Rodada, em 2001, no Qatar, logo depois dos atentados nos Estados Unidos. Para muitos, foi a tragédia que criou as condições políticas para as discussões.

- De repente, uma crise alimentar mais forte pode até... Nós não desejamos isso! - disse Amorim em entrevista coletiva, um dia após o fracasso das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ao GLOBO (leia ao lado), Amorim disse que o Brasil vai apostar no comércio regional, tentando ressuscitar a negociação entre Mercosul e União Européia (UE). Um dos perigos, disse, é a Farm Bill (Lei Agrícola), recém-aprovada pelo Congresso americano:

- A Farm Bill possibilita subsídios muito piores que os atuais.

No mínimo 3 anos para fechar Rodada

Ontem, a pergunta era: o que fazer? Para Amorim, há três opções. A primeira, improvável, é surgir uma "luz" em certos governantes (EUA e Índia) ou um fato político importante, levando os ministros a se reunirem em outubro. Mesmo assim, seria difícil fechar a Rodada este ano. A segunda opção é continuar trabalhando, mas Amorim admite que, sem pressão, nada avança na OMC. A terceira, com 95% de chances, é concluir a Rodada em três anos, no mínimo. Mas será possível manter o pacote atual?

A representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab - que, junto com o indiano Kamal Nath, foi acusada de provocar o colapso das negociações -, disse que os EUA manterão todos os compromissos. E afirmou que seu país está disposto a retomar as negociações com o Mercosul. Amorim ressaltou que terá de ser em outras bases: o Brasil não quer que os americanos fiquem só insistindo em propriedade intelectual e investimentos, como na Alca. Só que em 2009 os EUA terão um novo presidente, e ninguém sabe o que ele fará.

LULA QUER RESOLVER MAL-ESTAR COM A ARGENTINA, na página 24

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