Título: Brasil prepara-se para retaliar EUA em US$4 bi
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 31/07/2008, Economia, p. 25

Direito a represália foi garantido em ação na OMC contra subsídios agrícolas americanos. Soja e milho estão na mira

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. A falta de acordo na Rodada de Doha vai despertar uma demanda reprimida no mundo por contenciosos, quebrando uma espécie de trégua que vigorava até que se chegasse a um entendimento sobre a redução de subsídios domésticos e das barreiras técnicas e fitossanitárias. O Brasil, por exemplo, prepara-se para pedir à Organização Mundial do Comércio (OMC) o direito à retaliação de cerca de US$4 bilhões aos EUA, graças a uma ação movida contra as subvenções dadas pelo governo americano aos produtores daquele país, dinheiro que poderá se reverter em mais acesso ao mercado dos EUA no futuro.

A lista de contenciosos brasileira poderá crescer. Só na frente americana são 80 programas que envolvem subsídios, numa reclamação encaminhada primeiramente pelo Canadá. Não estão descartadas novas ações contra as barreiras ao etanol impostas por EUA e União Européia (UE), os subsídios americanos para soja e milho e o tratamento discriminatório dado pelos europeus ao Brasil nas importações de café solúvel.

As exigências fitossanitárias às carnes brasileiras serão igualmente focos de atuação. Um exemplo é a exportação de suínos, alvo de barreiras em Chile, a China e o Japão.

- Existe uma demanda mundial reprimida, e é claro que o Brasil também tem a sua. Mas, para o governo entrar na OMC, os setores interessados precisam nos convencer - disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.

Bilateralismo e prioridade a países andinos são opções

Outro caminho consiste em voltar a discutir uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a Comunidade Andina e a América Central.

- A UE é um caminho, mas em minha opinião, o Brasil precisa dar prioridade à Comunidade Andina. O bilateralismo será uma maneira de compensar o fiasco do multilateralismo - disse o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador José Botafogo Gonçalves.

O consultor internacional Adimar Schievelbein concorda.

- Antes de partir ao multilateralismo, é preciso ter um mercado calibrado e competitivo. A sobrevalorização da moeda (o real), em si, já é um subsídio à importação.

O Brasil pretende negociar ainda acordos comerciais com o Conselho de Cooperação do Golfo, a Jordânia, o Marrocos, a União Aduaneira da África Austral (Sacu) e a Turquia. Com a Índia o objetivo será ampliar o acordo de preferências tarifárias. Já com a China o Brasil deverá voltar a conversar sobre a queda das barreiras a produtos agropecuários.