Título: Acordo bilateral é Plano B dos EUA
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 31/07/2008, Economia, p. 27

Brasil seria prioridade na negociação. Doha fica para novo presidente

José Meirelles Passos

WASHINGTON. O governo dos Estados Unidos apostava alto num acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC). O presidente George W. Bush insistiu com Susan Schwab, a chefe dos negociadores, para fazer todo o possível. Mas os EUA estavam preparados para o fiasco: criaram um Plano B, que será colocado em marcha assim que todos se refizerem do choque do fracasso. A expectativa é que isso aconteça em 2009, após a posse do novo presidente, em 20 de janeiro. O plano teria apoio bipartidário.

- A idéia é reativar as negociações em novos termos, com ambições de curto prazo. Quer dizer: negociar tema por tema, e ir avançando à medida que houver acordo em cada questão - revelou ontem um alto funcionário do Escritório de Comércio da Casa Branca (USTR, na sigla em inglês).

Por sua vez, a Comissão de Relações Exteriores, do Congresso americano, quer aproveitar o momento para sugerir a continuação da busca de acordos bilaterais, com prioridade para o Brasil.

- Há certos assuntos que os brasileiros não querem discutir ou incluir. Portanto, deveríamos enfocar em setores específicos e usar isso como uma estrutura, e passar a construir sobre ela - disse Carl Meacham, assessor sênior da comissão no Senado.

Philip I. Levy, ex-conselheiro de Comércio da Casa Branca, acha possível essa iniciativa depois que o Brasil, ao contrário de Índia e China, "reconheceu a necessidade de obrigações mútuas" nesse tipo de acordo:

- Eu acredito que esse é o único enfoque politicamente viável. A questão é que o colapso de Doha significa que o assunto será passado para o próximo governo americano. E (John) McCain e (Barack) Obama têm tomado posições diferentes em comércio - disse Levy, conselheiro de McCain, insinuando que, com este, as possibilidades de um acordo entre EUA e Brasil seriam maiores.

Para Daniel K. Tarullo, conselheiro de Obama, o resultado de Doha não deve ser visto como o fim:

- A Rodada Uruguai tinha tido seus próprios impasses. Os problemas de Doha parecem mais difíceis de superar, mas os negociadores não devem abandonar os esforços. Achamos que devem voltar à mesa no ano que vem e buscar um consenso.