Título: Sem OMC, Brasil perde pelo menos US$4,25 bi
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 31/07/2008, Economia, p. 27
Especialistas ressaltam também que indústria perde produtividade sem a competição de produtos importados
Bruno Rosa
Com o fracasso na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) o Brasil deixará de ganhar pelo menos US$4,25 bilhões por ano somente na agricultura. Para especialistas, o setor mais afetado será o etanol, no qual o país, perderá US$3,3 bilhões em vendas ao exterior. Os números foram calculados pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), levando-se em conta o ano de 2014, quando o teto da cota de exportação previsto no acordo em discussão na OMC - para Estados Unidos e União Européia (UE) - já teria sido alcançado. Os valores não incluem o algodão.
Na área industrial, dizem especialistas, haveria mais perdas sem a flexibilização nas tarifas de importação. Para eles, as empresas brasileiras perdem em competitividade, uma vez que a entrada de produtos importados mais baratos estimularia a busca de novas técnicas de produção. O mesmo raciocínio vale para China e Índia, diz Mauro Lopes, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, diz que, se o Brasil ficasse com metade da cota da UE, o ganho em carne suína seria de US$200 milhões por ano em 2014, e o de carne bovina, de US$750 milhões. Hoje, os embarques oscilam entre US$1 bilhão (para carne de porco) e mais de US$4 bilhões (para carne de boi).
- As perdas são modestas porque o ganho seria modesto.
Segundo André Nassar, diretor-executivo do Icone, o Brasil perde porque não se criam disciplinas para os subsídios, quando os preços estiverem baixos.
- Se existisse teto para o subsídio da soja entre 1999 e 2002, o Brasil teria exportado US$3,5 bilhões a mais no período - diz Nassar.
O embaixador José Botafogo Gonçalves, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), crê que o futuro do Brasil não está na UE, e sim na Ásia:
- E para entrar na Ásia é essencial fortalecer o Mercosul, pois, assim, há mais capacidade de negociar conjuntamente.
As conseqüências para China e Índia serão verificadas a médio e longo prazos. Para Lopes, da FGV, esses países vão perder competividade com o protecionismo.