Título: Inflação alta engole parte do ajuste fiscal do governo
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 31/07/2008, Economia, p. 29

Dívida corrigida pelo IPCA já chega a 22,8% do total

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A inflação apresenta agora sua fatura à política fiscal. Apesar de mantida a trajetória de queda da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), principal indicador de solvência do país, a forte variação do custo de vida está elevando o desembolso do setor público com juros. Isso porque cresce a parcela do endividamento corrigida por índices de preços. No primeiro semestre, os juros consumiram R$88,026 bilhões, o pior resultado desde 1991. O superávit primário recorde de R$86,116 bilhões não foi suficiente para quitar os compromissos, levando a um déficit nominal de R$1,910 bilhão.

A parcela da dívida indexada ao IPCA, por exemplo, passou de 18,4% do total, em junho de 2007, para 22,8% no mês passado. Com isso, o desembolso com juros dos títulos corrigidos pelo indicador somou R$18,839 bilhões no semestre passado, 70% a mais do que um ano antes. Os dados são do Banco Central (BC).

Relação dívida/PIB mantém tendência de queda

O movimento, porém, não foi suficiente para evitar que a relação dívida/PIB encerrasse o semestre com a quarta queda seguida, para 40,4%. A previsão do BC é que o indicador chegue em dezembro a 40,5%.

- Continuamos com tendência de queda na relação dívida/PIB - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Só em junho, a economia para pagamento de juros ficou em R$11,166 bilhões, recorde para o mês, representando um superávit primário de 4,27% do PIB em 12 meses. O número é praticamente a nova meta estabelecida para 2008, de 4,3%.

O governo central (Tesouro Nacional, BC e INSS) foi o que mais poupou: R$7,067 bilhões, também seu melhor junho. Mas, a partir de agora, espera-se uma contribuição maior de estados e municípios, pois as eleições limitam os gastos públicos entre julho e o fim da eleição. As estatais também devem melhorar os resultados porque os pagamentos de dividendos e royalties se concentram no início do ano, segundo Lopes.