Título: Empresários aprovam mudança de postura do Itamaraty na OMC
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 29/07/2008, Economia, p. 22

IMPASSE GLOBAL: Ao contrário de China, Índia e Argentina, Brasil aceita cortes.

Para eles, diplomacia acertou ao se descolar de parceiros emergentes.

BRASÍLIA. Amigos, amigos, negócios à parte. Essa postura do Itamaraty na reta final da Rodada de Doha - ao escolher uma fórmula de corte de tarifas de produtos industriais que não teve a concordância dos parceiros que fazem parte da política de integração Sul-Sul (Argentina, China e Índia) - foi aplaudida pela agricultura e pela indústria nacionais. Pôs fim ainda a ressentimentos do Ministério da Agricultura em relação à diplomacia.

Foi o que disseram técnicos da pasta, para os quais o Ministério das Relações Exteriores demorou, mas acertou, ao tomar uma atitude no sentido de flexibilizar as tarifas industriais. Isso, afirmaram, poderá ajudar o Brasil a obter acesso de produtos aos mercados desenvolvidos, como o etanol.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que, com essa posição, o Brasil espera que finalmente haja liberação do comércio internacional de produtos agrícolas. O passo a ser dado nesse sentido, segundo ele, deve partir, sobretudo, dos EUA e da União Européia (UE):

- Só precisamos ver o grau de abertura que americanos e europeus nos darão depois dessa flexibilização - disse.

Para CNI, há margem para proteger interesses nacionais

A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que é melhor um acordo magro do que nada. Segundo o assessor técnico da entidade, Mateus Zanella, o risco de um fracasso era iminente.

- Não podemos mais ser testas-de-ferro da Argentina - disse Zanella, referindo-se à postura do Brasil de aceitar propostas menos ambiciosas para salvaguardar interesses do vizinho.

A gerente-executiva de negociação internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Soraya Rosar, disse que a decisão do Brasil de aceitar um corte médio de 59% das tarifas industriais (o maior percentual de redução negociado) foi a melhor. A opção dá ao Brasil o direito de não zerar em dez anos as alíquotas de importação de 14% dos itens manufaturados, o que daria margem suficiente para proteger interesses nacionais.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirmou que o Brasil precisa ter independência, mas fez uma ressalva:

- Aparentemente, o Brasil tomou uma posição sem consultar os parceiros. Não é correto.

Um dos maiores opositores da política externa do governo Lula, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também elogiou a opção brasileira. Para ele, embora alguns setores da indústria possam ser afetados negativamente, "o país e a sociedade brasileira serão beneficiados com o crescimento econômico gerado a partir de novas oportunidades".