Título: Após Doha, Brasil e Argentina voltam a discutir suas pendências bilaterais
Autor: Oliveira, Eliane; Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 05/08/2008, Economia, p. 22

Brasileiros defendem a redução da alíquota de exportação sobre o trigo

Eliane Oliveira* e Janaína Figueiredo**

BUENOS AIRES. Selada a paz em relação ao fiasco da Rodada de Doha, Brasil e Argentina voltam a discutir as pendências bilaterais. Em reunião hoje em Buenos Aires, o governo brasileiro tentará convencer as autoridades argentinas a reduzirem a alíquota de exportação de trigo, que dificulta as importações feitas pelas indústrias brasileiras.

Também vai pleitear ao país vizinho a adoção de preços compatíveis aos de mercado para os vinhos argentinos, que, segundo os produtores do Sul do Brasil, estão concorrendo com os nacionais de forma desleal.

Outro ponto que preocupa as autoridades dos dois países é referente ao setor automotivo. Embora o Brasil esteja importando mais automóveis dos vizinhos, tendo em vista que a economia brasileira está bastante aquecida, há forte desequilíbrio quando se fala em autopeças. Sem investimentos, as empresas argentinas precisam importar quase tudo do Brasil para fabricar os veículos, expandindo o já elevado déficit comercial favorável aos brasileiros.

- Essa questão está praticamente resolvida. O BNDES tem uma linha de crédito específica para financiar investimentos brasileiros na Argentina, que podem ocorrer tanto pela instalação de empresas no país vizinho quanto por meio de associação entre companhias dos dois países - explicou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho.

Safra de trigo já começa a chegar ao mercado

Segundo Ramalho, no caso dos vinhos, há cerca de um ano foi firmado um acordo entre produtores dos dois países em torno de um preço mínimo de US$8 a caixa. O acerto foi feito porque, de acordo com os produtores brasileiros, estava entrando vinho de baixa qualidade no Brasil a um custo baixíssimo em relação ao preço do mercado nacional. A idéia, acrescentou o secretário, é aumentar o preço mínimo para um valor a ser negociado pelas partes.

Quanto ao trigo, Ramalho reconheceu que o governo argentino tomou duas medidas importantes recentemente: aumentou a alíquota de exportação de farinha de trigo de 10% para 18%, reduzindo a diferença entre o imposto e a tarifa sobre o trigo, de 28%; e anunciou o envio de 900 mil toneladas do cereal para o Brasil.

- O Brasil já zerou a alíquota de importação, em quantidade limitada, para o trigo vindo de terceiros países. Mas ainda não é suficiente - afirmou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, destacando que a safra brasileira de trigo já começa a entrar.

(*) Enviada especial (**) Correspondente