Título: Mantega: governo pode intensificar aperto fiscal para conter inflação
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 05/08/2008, Economia, p. 27

Para ministro, aumentar superávit primário é melhor que elevar juros

Lino Rodrigues

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que o governo pode recorrer a novo aperto fiscal, caso a inflação persista em ficar fora da meta. Para Mantega, aumentar o patamar de superávit primário (poupança que o governo faz para pagamento de juros da dívida pública) pode ser mais eficiente do que a política de juros altos do Banco Central (BC) para conter a inflação. A meta de superávit das contas públicas para 2008 é de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), mais 0,5 ponto percentual para o Fundo Soberano, que não saiu do papel. Na prática, o governo passou a meta para 4,3%.

- Se necessário, faremos mais do que isso (4,3%), mas a dose do remédio não pode exceder as necessidades do paciente. Em vez de pagar juros, eu prefiro diminuir gastos correntes - disse Mantega, em seminário promovido em São Paulo pela revista "Carta Capital".

O ministro reafirmou que o esforço para conter a inflação não deve prejudicar o "ciclo de crescimento sustentável" do país. Segundo ele, os índices de inflação mostram que as taxas estão caindo, graças à redução dos preços internacionais das commodities. Para ele, o choque das matérias-primas (a seu ver, a principal causa da aceleração inflacionária dos últimos meses) está "amainando" com a economia brasileira, que começa a desacelerar. Mantega citou a queda do volume de crédito para veículos, que recuou de 19,4% para 11% do PIB de janeiro a junho; e diminuição do consumo das famílias de 8,6% do PIB, no último trimestre de 2007, para 6,6% do PIB no primeiro trimestre de 2008:

- Ninguém vai abortar esse crescimento. A nossa equação é reduzir a demanda sem derrubar o ciclo de crescimento.

Para analistas, pré-sal tem de 30 bi a 70 bi de barris

O ex-ministro Delfim Netto, um dos debatedores no seminário, afirmou que não há garantia de que não se "aborte" esse crescimento. O fato de o BC não perder a chance de mostrar sua "independência" ao subir os juros, segundo ele, pode prejudicar o crescimento. Ele defende um equilíbrio entre a taxa no exterior e a praticada aqui.

- O Brasil é o último peru com farofa disponível na mesa dos especuladores internacionais - comparou o ex-ministro, acrescentando que o BC "aterroriza" a sociedade com a possibilidade de hiperinflação.

Outro que criticou a desvalorização do dólar e os juros foi o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, classificando a política de "suicida". Para o ex-ministro da Fazenda, a política econômica do dia-a-dia do governo é boa, mas não resolve problemas do médio prazo, como as desigualdades dos juros altos e do "câmbio absurdo":

- Não há justificativa possível para esse juro. No câmbio temos essa vocação para o suicídio. É o populismo cambial.

Em outro painel, o gerente-geral da área de estratégia da Petrobras, José Jorge de Moraes Júnior, reafirmou que estatal reavaliará a política de investimentos para contemplar projetos de descobertas no pré-sal. Segundo ele, analistas internacionais prevêem que o pré-sal tenha de 30 bilhões a 70 bilhões de barris em reservas, mas a Petrobras só terá essa prévia em um ano.