Título: Ordens seriam passadas por parentes
Autor: Carvalho, Jailton de ; Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 06/08/2008, O país, p. 11

Traficantes iriam levantar o dinheiro, e assaltantes executariam seqüestros

BRASÍLIA e CAMPO GRANDE. Logo que as prisões foram concluídas, anteontem, os traficantes Juan Carlos Abadía e Fernandinho Beira-Mar foram levados da penitenciária federal para a superintendência da Polícia Federal de Campo Grande, de onde só saíram na madrugada de ontem, depois de prestar depoimento.

Abadía, Beira-Mar, José Reinaldo Girotti e João Paulo Barbosa se associaram apesar de, pelo menos em tese, não terem qualquer contato direto dentro do presídio federal. De acordo com a PF, o plano determinava que os traficantes teriam a tarefa de levantar dinheiro para as operações e fazer a articulação entre os criminosos que estão fora dos presídios, dando apoio operacional aos presos. Aos assaltantes do Banco Central de Fortaleza, acostumados com as ações na rua, caberiam os seqüestros.

As ordens seriam repassadas por parentes dos presos durante as visitas. Essa era a forma de atuação da ex-mulher de Beira-Mar, presa quando visitava o ex-marido na penitenciária federal de Campo Grande. No dia da Operação X, chegou à PF a informação de que entre os alvos dos seqüestros estaria o filho de um juiz federal de Campo Grande, mas, segundo policiais, as ações dos bandidos seriam concentradas em São Paulo e Brasília.

Com a descoberta de que mesmo de dentro de um presídio de segurança máxima Abadía e Beira-Mar continuam comandando o crime organizado, a Justiça Federal estuda mecanismos para reforçar a vigilância de ambos. Entre as medidas analisadas está restringir ou monitorar as visitas de parentes e advogados e até suspender as correspondências. No caso de Abadía e dos assaltantes de bancos, eles também poderão ser enquadrados no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que impede o preso de receber visitas.

A Procuradoria da República no Mato Grosso do Sul instaurou procedimento investigatório criminal para apurar indícios de vazamento da Operação X. A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal divulgaram ontem nota conjunta informando apenas os nomes dos presos na Operação X e as acusações que pesam contra os criminosos recolhidos no presídio de Campo Grande. Eles serão processados por formação de quadrilha e extorsão mediante seqüestro.