Título: Ipea: três milhões de pessoas terão deixado a pobreza entre 2002 e 2008
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 06/08/2008, Economia, p. 24
RETRATOS DO BRASIL: Queda se deveu à alta do emprego e a políticas sociais
Instituto afirma que o número de pobres cairá de 32,9% para 24,1%
Geralda Doca
BRASÍLIA. Entre 2002 e o fim deste ano, três milhões de brasileiros terão deixado a pobreza nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Só em 2008, serão 500 mil pessoas com melhores condições de vida. A conclusão é de um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com os dados, o percentual de pobres nos grandes centros urbanos cairá de 32,9% para 24,1% em seis anos. As pessoas consideradas pobres em 2002 - com renda familiar per capita de R$103,75 a R$207,50 a preços correntes - eram 14,352 milhões. Em dezembro, serão 11,356 milhões.
O ritmo de queda foi ainda maior para a população considerada indigente (com renda familiar per capita de até R$103,75) e que mora nas zonas urbanas. Neste caso, o percentual, que estava em 12% em 2002, cairá à metade até o fim deste ano, para um universo de 3,123 milhões de pessoas. Já entre os ricos (com renda familiar acima de R$16.600 mensais), o movimento ficou praticamente estável em 1% da população nos últimos seis anos. Entraram para o seleto grupo 28.103 pessoas.
- O Brasil está deixando de ser um país de pobreza absoluta para ser um país de pobreza relativa, diminuindo a distância entre o topo e a base da pirâmide - afirmou o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.
Alta da produtividade foi maior que ganho de renda
Um dos efeitos dessa mudança, segundo Pochmann, foi a elevação do número de brasileiros enquadrados na faixa intermediária de renda (nem pobre nem rico). Em 2002, dois terços dos moradores das regiões metropolitanas viviam nessa situação e, no fim de 2008, serão três quartos.
- Houve um aumento nos segmentos intermediários, sobretudo da classe média baixa - afirmou Pochmann.
Segundo ele, os efeitos da expansão da economia no mercado de trabalho (mais vagas formais e alta dos rendimentos) foram os principais motivos para a redução da pobreza no período. A renda do trabalho representa 90,7% dos rendimentos das famílias nas áreas urbanas. Também foram essenciais o aumento real do salário mínimo e os programas sociais (não só o Bolsa Família, mas as aposentadorias e benefícios previdenciários).
Para Pochmann, a pequena mobilidade entre os ricos nos últimos seis anos é um sinal de que os ganhos de produtividade não estão sendo repassados aos salários dos trabalhadores. Ao citar dados de outra pesquisa mensal do IBGE com números específicos do setor industrial, ele afirmou que enquanto a produção no segmento subiu 28,1% entre 2001 e 2008, a folha de pagamento real por trabalhador teve alta de apenas 10,5%.
O estudo do Ipea, feito a partir da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, cita dados da pobreza entre 2002 e 2008 e, portanto, englobando apenas o último ano de gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No texto, há uma ressalva de que os indicadores foram melhores entre 2003 e 2008, governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pochmann justificou o recorte temporal da pesquisa, afirmando que a PME mudou sua metodologia em 2002, dificultando a compatibilização de séries históricas em relação ao período anterior.