Título: Indústria tem maior alta semestral em 4 anos
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 02/08/2008, Economia, p. 33

Elevação de juros básicos ainda não afetou produção, que avançou 6,3% em seis meses e 2,7% em junho

Bruno Villas Bôas

Impulsionada pelo bom desempenho do setor automotivo, a produção industrial brasileira cresceu 6,3% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2007, a maior expansão para um primeiro semestre nos últimos quatro anos. O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), revela que a escalada dos juros básicos, iniciada em abril deste ano, ainda não tirou o fôlego da economia, apontam analistas. Depois da queda de 0,6% em maio, a produção cresceu 2,7% em junho, na comparação com o mês anterior, maior alta nessa base de comparação desde os 3,5% apurados em outubro de 2007. Frente a junho do ano passado, o aumento foi de 6,6%.

Embora o setor automotivo - que cresceu 18,4% nos seis primeiros meses deste ano e 9,8% em junho frente a maio - tenha puxado a expansão, o coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales, lembrou que 21 dos 27 setores acompanhados pela instituição cresceram no semestre, dos quais nove registraram nível recorde de produção.

Segundo IBGE, crédito e renda estimularam produção

Sales destacou a alta em metalurgia básica (7,6%), máquinas e equipamentos (9,4%), aviões e motocicletas (33,1%), indústrias extrativas (6,4%) e borracha e plástico (9%).

- A alteração na política monetária não afetou, aparentemente, os números da indústria até aqui - avaliou o pesquisador, para quem a demanda interna, resultado do aumento da oferta de crédito e da distribuição de renda, foi fundamental para o desempenho da indústria até aqui.

Todas as categorias de uso pesquisadas pelo IBGE apresentaram expansão, com destaque para os bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens de consumo duráveis. O primeiro, termômetro dos investimentos produtivos, cresceu 7,7% em junho ante maio e 20,3% na comparação a junho do ano passado, com a venda de caminhões e máquinas agrícolas. Já a produção de bens de consumo duráveis cresceu 7% em relação ao mês anterior e 15,2% ante junho de 2007, sustentada principalmente pela produção de automóveis. Os bens de consumo semiduráveis e não duráveis cresceram, mais uma vez, abaixo da média industrial.

Especialista: setor deve desacelerar no 2º semestre

Os resultados da produção em junho indicam uma aceleração na comparação a maio, mas Sales diz que ainda é cedo para apontar uma tendência. Ele lembrou que o mês sofreu efeito positivo do calendário - junho teve neste ano um dia útil a mais que em 2007 -, e a produção da indústria tem apresentado forte oscilação nos últimos meses.

Segundo a economista do Unibanco Giovanna Rocca, os números da produção ficaram um pouco acima das expectativas do mercado, que projetou aumento de 2,4% para junho frente a maio. O Unibanco, por exemplo, calculou crescimento de 2,1%.

Para o ano, Giovanna projeta alta de 5% na produção industrial, o que significa desaceleração no segundo semestre. No ano passado, a produção cresceu 6% de janeiro a dezembro, melhor resultado desde 2004.

- O aumento dos juros básicos da economia não afetaram, até aqui, o desempenho da indústria, mas a tendência é que neste segundo semestre o quadro mude - acrescentou.

O economista do Ipea, Leonardo Carvalho, lembrou que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez um alerta sobre uma possível queda de produção até o fim do ano, ao revelar que os estoques das indústrias cresceram acima do planejado neste segundo trimestre. O Ipea projeta alta de 5% a 6% da produção industrial neste ano.