Título: Crivella defende esterilização de jovens de 18
Autor: Duran, Sergio
Fonte: O Globo, 08/08/2008, O País, p. 10

Para candidato, planejamento familiar é forma de combater o desemprego, que estaria por trás da pirataria

Sergio Duran

O senador Marcelo Crivella, candidato pelo PRB à prefeitura do Rio, defendeu ontem, durante caminhada na Pavuna, um programa de planejamento familiar como uma das formas de combater o desemprego entre jovens. Ele citou um projeto de sua autoria que tramita no Senado e propõe a redução, de 25 anos para 18 anos, da idade mínima para laqueadura de trompas e vasectomia.

A proposta surgiu quando o candidato passou por camelôs que vendiam produtos piratas. Crivella afirmou que o combate à pirataria se dará com a geração de empregos e citou medidas voltadas para jovens, desde incentivos fiscais até o planejamento familiar com métodos definitivos.

- Acho que o poder público deve fazer uma campanha de conscientização, deve criar o Dia Nacional do Planejamento Familiar, deve dar uma folga a homens e mulheres que desejam fazer o tratamento. Devemos reduzir a idade de 25 para 18 anos, porque já existem meninos e meninas com dois, três, cinco filhos. Se já tiver dois filhos com 18 anos, sobretudo nas áreas carentes, é nosso dever ajudá-las - afirmou.

O projeto prevê mudanças na lei, de 1996, que estabelece o planejamento familiar, propondo a redução da idade de 25 para 18 anos para a esterilização. O método deve ter o consentimento da pessoa que tenha, no mínimo, dois filhos vivos e passe por acompanhamento psicológico. A medida, à espera de aprovação, pode ter apoio do município, segundo ele. Crivella também se disse favorável à distribuição de camisinhas e a campanhas educativas.

Proposta causa polêmica entre especialistas

Para o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Nilson Roberto de Melo, essa é a pior metodologia de contracepção que existe. Segundo ele, a medida soa como controle de natalidade, por mais que não seja obrigatória:

- É eleitoreira. Hoje temos métodos hormonais e não hormonais com eficácia semelhante à laqueadura. São jovens num mundo onde a estabilidade dos casais quase não existe e que podem ter desejos futuros de novos filhos. O ideal são campanhas para métodos eficazes, e não radicais.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, se diz favorável a políticas públicas de planejamento familiar, mas o principal enfoque, segundo ele, é dar informação às pessoas.

- Trata-se de uma legislação federal, mas o prefeito pode suscitar o debate. O mais importante é a rede pública estar capacitada. Hoje é difícil fazer um pré-natal decente, que dirá um programa de planejamento familiar como este.

Sem fazer referências diretas à Igreja Católica, Crivella disse que "dogmas políticos e religiosos" impedem que as mudanças no planejamento familiar tramitem no Senado e, que, por isso, clínicas de aborto proliferam na cidade.