Título: Flagrante foi preparado, afirma advogada
Autor: Barbosa, Adauri Antunes ; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 08/08/2008, Economia, p. 28

Acusado de subornar delegado se diz amigo de Protógenes há 7 anos

Ricardo Galhardo

SÃO PAULO. Preso há um mês na Operação Satiagraha por tentativa de suborno, Hugo Chicaroni disse ontem, em interrogatório na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que é amigo íntimo há pelo menos sete anos do delegado Protógenes Queiroz, chefe da operação. No interrogatório de quase cinco horas, Chicaroni confirmou ter recebido R$865 mil de Humberto Braz, braço direito do empresário Daniel Dantas - do grupo Opportunity -, para subornar o delegado da Polícia Federal Vitor Hugo Alves, que participou da investigação. Protógenes teria se valido da amizade para armar uma cilada contra Dantas.

- Não houve oferta de valores. O que houve foi um pedido por parte do agente público (Vitor Hugo) - disse a advogada de Chicaroni, Maria Fernanda Carbonelli. - O flagrante foi preparado. Protógenes é amigo íntimo do Chicaroni há mais de sete anos e se aproveitou disso para apresentá-lo ao outro delegado (Vitor Hugo).

Chicaroni, Braz e Dantas são réus em processo por corrupção ativa na 6ª Vara Criminal, acusados de tentar subornar o delegado em troca de excluir Dantas, sua irmã Verônica e o ex-cunhado Carlos Rodemburgo da lista de alvos da Satiagraha.

O monitoramento da tentativa de suborno ao delegado da PF foi feito com autorização do juiz da 6ª Vara, Fausto de Sanctis. Em 8 de julho, quando a operação foi deflagrada, a PF apreendeu R$865 mil na casa de Chicaroni. Em depoimento à PF, ele disse que parte do dinheiro veio do banco Opportunity e seria usado para subornar o delegado Vitor Hugo. Ontem, confirmou a informação.

Dantas fica calado em depoimento pela quarta vez

Os advogados de Chicaroni disseram que a origem do dinheiro será esclarecida. No depoimento, Chicaroni afirmou ter recebido o dinheiro de Humberto Braz, ex-executivo da Brasil Telecom, mas não citou o nome de Dantas.

Para o procurador Rodrigo De Grandis, Chicaroni alterou a versão relatada anteriormente à PF como parte da estratégia de defesa. Protógenes foi procurado ontem, mas não retornou às ligações até 20h.

Dantas voltou a ficar calado ontem, diante do juiz De Sanctis. Ele já havia se recusado a falar por três vezes à PF, por orientação de seu advogado, Nélio Machado, que comemorou o interrogatório de Hugo Chicaroni.

O juiz De Sanctis marcou audiência para o dia 14, para ouvir testemunhas de acusação. O juiz ofereceu a Dantas uma nova oportunidade para falar sobre o caso mas fontes envolvidas na investigação duvidam que o banqueiro vá se pronunciar. Também ontem Humberto Braz entrou com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).