Título: Solange muda o tom e passa a criticar a gestão de seu padrinho, Cesar Maia
Autor: Bottari, Elenilce ; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 12/08/2008, O País, p. 5

Candidata diz que padrão da cidade caiu; prefeito admite estratégia

Cássio Bruno

Em encontro ontem com empresários portugueses, no Palácio São Clemente, em Botafogo, a candidata a prefeita do Rio pelo DEM, Solange Amaral, mudou o tom do discurso de sua campanha. Depois de ter afirmado que a continuidade do governo municipal não significa repetir o atual, a deputada criticou a administração do seu padrinho político, o prefeito Cesar Maia (DEM). Segundo ela, o padrão de conservação da cidade caiu e, durante a epidemia de dengue, o município demorou a perceber a proliferação da doença.

Pesquisa do Datafolha divulgada em abril mostrou que 43% dos cariocas classificam a administração de Cesar como ruim ou péssima. Por e-mail, o prefeito disse que a atitude de Solange é uma estratégia eleitoral já definida:

- (Ela) repete o que me ouviu dizer. Ela diz isso desde o começo num discurso definido em maio.

Deputada, agora, diz querer parceria com Lula e Cabral

No evento, Solange disse ainda que, embora Cesar Maia tenha acertado em algumas áreas - em seus três mandatos como prefeito-, também "errou à beça". Ao mesmo tempo, a candidata adotou o discurso dos adversários e defendeu parcerias com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o governador Sérgio Cabral (PMDB), se eleita.

- A população reclama, com razão, dos padrões de conservação da cidade, que caíram no ponto de vista do asfaltamento, da poda de árvores e da iluminação. Já tivemos um padrão melhor, é verdade. Mas houve uma concentração de recursos para a realização do Pan-Americano - disse ela.

Em relação à dengue, que já matou 86 pessoas na cidade este ano, Solange disse que a epidemia foi uma falha dos governos municipal, estadual e federal:

- Foi uma falha de todos. O município, por exemplo, demorou a se dar conta de que a doença foi se alastrando.

O coordenador do programa de pós-graduação de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eurico Figueiredo, disse que o novo tom de Solange é para embaralhar o quadro eleitoral também porque ela caiu nas pesquisas:

- Perceberam duas coisas: uma é que o Cesar Maia tira voto e a outra é que ela quer confundir os adversários e acabar com a imagem de ser a candidata da situação. Isso é para embaralhar o jogo político. É o novo marketing dela.